quarta-feira, 1 de junho de 2016

DANÇAR x MOVER-SE na Música

Gosto quando as pessoas conseguem colocar em poucas palavras toda uma ideia, um exemplo disso aconteceu antes de uma aula, quando uma novo aluno me disse que veio fazer aula comigo porque gostava como eu dançava, diferente de outros que apenas se movimentavam na música. Aquilo ficou reverberando em meus pensamentos. A forma como tenho visto muita gente "dançar", sinceramente, não tem me sensibilizado, e isso me fez buscar entender o porquê.

Podemos começar com a grande diferença entre Esporte e Arte. No esporte conta o desempenho, é uma competição, precisa-se vencer. Na arte predomina a emoção, expressar através da sua atividade o que se está sentindo ou que se deseja transmitir. Gosto da dança enquanto arte, quando se tem emoção! Sabe aquela sensação que nos faz querer pegar um par e sair bailando logo após assistirmos uma apresentação de dança ou ver um casal dançando no salão? Então, isso é uma ótima dança para mim, aquela que me toca e me desperta o desejo de dançar também! E pra quem já é praticante sabe que esse desejo não irá passar enquanto não for expressado!


Tenho visto muitas danças que quando chegam ao fim eu digo "foda", "os caras são bons"... mas não me despertam o desejo de dançar e muitas vezes nem de querer continuar assistindo. Muitos dançarinos têm se dedicado intensamente às técnicas, e isso é muito importante para quem quer ser profissional, ou simplesmente melhorar a sua dança, mas quando toda essa técnica é desprovida de emoção... hum... a dança deixou de ser uma arte, ficou fria de sentimentos, é abastecida apenas pela ação, e algumas vezes criatividade, resultando na elaboração de movimentos difíceis de serem executados, uma coordenação motora surpreendente e muita agilidade, mas que não encantam os demais, e até arrisco a dizer, que não satisfaz plenamente quem o executou, pois em pouco tempo esse nível técnico não contentará mais e precisará se elevar e se desafiar novamente e assim sucessivamente.

Na dança de salão, assim como na vida, pensamos, agimos e sentimos, o equilíbrio entre ambos é que trás a harmonia e a beleza. A dança é movimento, está na ação, na nossa camada mesomórfica, mas quando desprovida do envolvimento da camada endomórfica, responsável pela emoção e pelo contato, ela se torna fria e sem expressão. Sem a participação da camada  ectomórfica perde a percepção sensorial e a criatividade ficando muito mecânica. Em ambas as circunstâncias a dança nos deixa com a sensação de estar faltando ago. (Quem desejar aprofundar um pouco mais nesse tema tem uma postagem publicada falando dos Tipos Contitucionais).

Como a arte é uma forma de expressão, não podemos deixar de falar sobre espontaneidade. Na minha monografia da pós-graduação em Psicoterapia Corporal dediquei um capitulo ao tema Auto-expressividade. Espontaneidade é uma atitude que vem do ser, do self, é uma qualidade essencial à expressividade. Quando o comportamento é aprendido e controlado o ego está em ação. Na dança aprendemos movimentos (ego), mas se estes não forem espontâneos em sua execução (self) a dança perderá o encanto e o prazer. "Quando o controle (ego) e a espontaneidade estão em harmonia a ponto de um suplementar o outro ao invés de tolhe-lô, garante aos nosso comportamentos maior objetividade e um nível de prazer mais elevado." (Alexander Lowen).

Uns dias atrás estava rolando no facebook um daqueles videos que viralizam, que um monte de gente compartilha e marca os amigos, era a apresentação de um grupo de dança numa competição (não era no Brasil, não sei onde era), eles eram fantásticos (para não dizer "fodásticos"), excelente técnica, sincronia, precisão, plasticidade e um monte de outras qualidades! No final da apresentação ficamos de queixo caído! Mas e a vontade de dançar depois de assistir? Hum... talvez à quem goste de competir, porque aos apreciadores da dança como lazer... estes provavelmente se sintam mais intimidados do que estimulados... Mas foi lindo!

Num daqueles dias que paramos para pensar,  estava refletindo sobre o comportamento dos dançarinos em seus diferentes níveis de dança e os comparando as fases da vida. O iniciante é como a criança, está inseguro com seu pouco conhecimento e experiência e se torna tímido no salão, arrisca muito pouco, as vezes nem se atreve a ir para a pista, e quando o faz se mantem na zona de conforto. O intermediário é como o adolescente ou jovem, tem necessidade de se auto-afirmar, ele quer se destacar, mostrar tudo o que sabe, o cavalheiro vai querer executar todos os passos do seu repertório em uma unica dança e a dama precisa colocar todos os enfeites e jogadas de cabelo que aprendeu nas aulas de ladie style. Preocupação social com o salão? Isso é o de menos, o importante é fazer o seu show. O avançado é como o adulto, já amadureceu, sabe que o importante não é a quantidade e sim a qualidade, dança para si e para o parceiro buscando o prazer para ambos. O sênior é como o idoso, já experienciou uma longa vida de prazeres e dores e o que vale agora é viver e se divertir, se entregam para aquela dança como se fosse a última, como se nada mais existisse. Assim como na vida os dançarinos também passam por diversas fases, o caminho da evolução é válido quando acompanhado de maturidade e conhecimento usado com sabedoria.

Teria diversos temas a mais para abordar, aspectos que influenciam na diferença entre dançar e mover-se na música, um deles deixei de lado de propósito, as competições, só ele renderia uma postagem exclusiva, mas creio que os pontos abordados já nos dão material para olharmos para nossa dança e vermos que caminho estamos seguindo e se é por aí que queremos continuar. O tema é recorrente e acredito que continuará em pauta ainda por um bom tempo, eu mesmo já o abordei aqui no inicio de 2012, agora voltei a ele com mais experiência e mais fundamentado. Quando me perguntam se gostei de uma dança, sabe em que me embaso para responder? Se ela me tocou de uma forma positiva. Minha vivencia com a dança de salão junto com meus estudos de psicologia e minha terapia pessoal me tornaram seguro para dar crédito ao que eu sinto! Se eu preciso ficar racionalizando, avaliando e equacionando para dizer se gosto ou não de uma dança, é porque estou precisando argumentar contra minha percepção e isso deixou de ser resposta espontânea e verdadeira, permitindo que o meu ego prevaleça sobre meu self. Não tenho intenção nenhuma de deixar de ser quem sou para agir como os demais acreditam que deva ser.

O que te encanta quando você assiste uma dança?