(o autor não quis se identificar)
"Tudo começou numa festa regional em Brasília. Saímos pela primeira vez e logo alguns dias depois começamos a namorar. Tudo estava florido. Então veio o forró.
Não entendia o porquê de dançar, de ir ao forró. Para mim, era lugar de gente solteira procurando farra. E, como namorado, não pude permitir que ela fosse sozinha ao forró toda semana.
Ela dançava há 3 anos, sempre estava lá. Mas agora ela tinha um namorado - eu pensava. Não fazia sentido ficar indo para esses lugares e dançando coladinho com vários outros homens. O suor dos dois era um. Não pude aceitar isso.
Várias vezes, no começo do namoro, ela foi ao forró com amigas. Eu não ia, pois não sabia dançar nada e não ia ficar lá olhando ela com outros homens rosto com rosto.
Por várias vezes brigamos pelo forró. Toda semana eu sentia um frio na barriga quando ia chegando o dia.
Então após uma briga muito grande, pelo fato de ela querer ir ao forró, eu terminei com ela. Eu disse que não poderia aceitar isso.
Após uma conversa, no outro dia ela escolheu parar de ir ao forró. Disse que iria apenas se eu fosse. Mas eu não ia nunca.
Voltamos. Passaram-se três meses de trégua. Mas algo em seu semblante foi assassinado. Ela se tornou uma pessoa triste por dentro, mas sempre tentando fazer outras coisas para suprir essa necessidade. E eu percebi isso, mas, mesmo assim, não admiti que ela fosse ao forró.
Ela sempre me dizia que apenas ia para dançar e fazia isso apenas com os amigos. Mas para mim isso era história pra boi dormir.
De tempos em tempos ela tocava no assunto de querer ir ao forró, mas eu sempre dizia que era coisa de solteiro e que eu não iria porque não sabia dançar. E nem fazia questão de aprender.
Então, um dia resolvi ir com ela ao forró. Nunca me esqueci desse dia. Eu não dancei, fiquei apenas olhando. Quando ela dançava, parecia estar flutuando, com um sorriso tão verdadeiro que fiquei constrangido. Sua semana não era a mesma após o forró. Seu sorriso era inédito para mim.
Então comecei a perceber o que eu estava fazendo. Me senti mal. Realmente não entendia o forró. Depois disso brigamos novamente e terminamos. Dessa vez pra valer.
Então comecei a ligar os pontos na minha mente. Depois que terminamos, ela começou a ir no forró novamente. Ela parecia inabalável, forte, suprida. A felicidade voltou a ser integral na vida
dela.
Eu me perguntava como uma dança teria todo esse poder. Não entrava na minha cabeça.
Parecia que o mundo podia cair, mas o forró ainda estaria ali. Que não importava o quão difícil a semana foi, o forró trazia uma solução. Então, comecei a tentar descobrir esse poder.
Baixei músicas, via vídeos e lia blogs sobre forró. Fui numa festinha de um amigo que dançava forró e comecei a ver e entender mais sobre.
A partir daí percebi que fui um monstro e que estava matando ela aos poucos proibindo o forró. Entendi o verdadeiro sentido do forró e do forrozeiro. De verdade.
Infelizmente já era tarde pra voltarmos, mas a lição ficou pra mim. Entrei na aula de forró e estou indo pra Itaúnas em 2010.
O forró me transformou e mudou minha visão de música, cultura, vida e amizades. O forró me entende.
Hoje penso que poderia ter entendido antes. Hoje eu não aceitaria que ninguém me proibisse do forró, porque ele me completa.
Às vezes temos que perder para ganhar, mas eu agradeço por ela ter passado em minha vida e ter semeado a semente do forró.
Forró é um estilo de vida. Uma dimensão onde a realidade flutua em meus ouvidos e meus pensamentos guiam o meu corpo e alma."