quarta-feira, 9 de junho de 2010

Guerra ao forró

(o autor não quis se identificar)

"Tudo começou numa festa regional em Brasília. Saímos pela primeira vez e logo alguns dias depois começamos a namorar. Tudo estava florido. Então veio o forró.

Não entendia o porquê de dançar, de ir ao forró. Para mim, era lugar de gente solteira procurando farra. E, como namorado, não pude permitir que ela fosse sozinha ao forró toda semana.

Ela dançava há 3 anos, sempre estava lá. Mas agora ela tinha um namorado - eu pensava. Não fazia sentido ficar indo para esses lugares e dançando coladinho com vários outros homens. O suor dos dois era um. Não pude aceitar isso.

Várias vezes, no começo do namoro, ela foi ao forró com amigas. Eu não ia, pois não sabia dançar nada e não ia ficar lá olhando ela com outros homens rosto com rosto.

Por várias vezes brigamos pelo forró. Toda semana eu sentia um frio na barriga quando ia chegando o dia.

Então após uma briga muito grande, pelo fato de ela querer ir ao forró, eu terminei com ela. Eu disse que não poderia aceitar isso.

Após uma conversa, no outro dia ela escolheu parar de ir ao forró. Disse que iria apenas se eu fosse. Mas eu não ia nunca.

Voltamos. Passaram-se três meses de trégua. Mas algo em seu semblante foi assassinado. Ela se tornou uma pessoa triste por dentro, mas sempre tentando fazer outras coisas para suprir essa necessidade. E eu percebi isso, mas, mesmo assim, não admiti que ela fosse ao forró.

Ela sempre me dizia que apenas ia para dançar e fazia isso apenas com os amigos. Mas para mim isso era história pra boi dormir.

De tempos em tempos ela tocava no assunto de querer ir ao forró, mas eu sempre dizia que era coisa de solteiro e que eu não iria porque não sabia dançar. E nem fazia questão de aprender.

Então, um dia resolvi ir com ela ao forró. Nunca me esqueci desse dia. Eu não dancei, fiquei apenas olhando. Quando ela dançava, parecia estar flutuando, com um sorriso tão verdadeiro que fiquei constrangido. Sua semana não era a mesma após o forró. Seu sorriso era inédito para mim.

Então comecei a perceber o que eu estava fazendo. Me senti mal. Realmente não entendia o forró. Depois disso brigamos novamente e terminamos. Dessa vez pra valer.

Então comecei a ligar os pontos na minha mente. Depois que terminamos, ela começou a ir no forró novamente. Ela parecia inabalável, forte, suprida. A felicidade voltou a ser integral na vida
dela.

Eu me perguntava como uma dança teria todo esse poder. Não entrava na minha cabeça.

Parecia que o mundo podia cair, mas o forró ainda estaria ali. Que não importava o quão difícil a semana foi, o forró trazia uma solução. Então, comecei a tentar descobrir esse poder.

Baixei músicas, via vídeos e lia blogs sobre forró. Fui numa festinha de um amigo que dançava forró e comecei a ver e entender mais sobre.

A partir daí percebi que fui um monstro e que estava matando ela aos poucos proibindo o forró. Entendi o verdadeiro sentido do forró e do forrozeiro. De verdade.

Infelizmente já era tarde pra voltarmos, mas a lição ficou pra mim. Entrei na aula de forró e estou indo pra Itaúnas em 2010.

O forró me transformou e mudou minha visão de música, cultura, vida e amizades. O forró me entende.

Hoje penso que poderia ter entendido antes. Hoje eu não aceitaria que ninguém me proibisse do forró, porque ele me completa.

Às vezes temos que perder para ganhar, mas eu agradeço por ela ter passado em minha vida e ter semeado a semente do forró.

Forró é um estilo de vida. Uma dimensão onde a realidade flutua em meus ouvidos e meus pensamentos guiam o meu corpo e alma."

7 comentários:

  1. O autor citou o forró, porque foi o que ele vivenciou, mas é isso que a dança faz por nós! É essa a sensação de quem dança! É esse prazer, essa renovação de energia que obtemos dançando! Aprendam a respeitar essa felicidade não só a do forrozeiro, mas do dançarino! E se permitam sentir esse prazer também!!!

    Muita dança! Muito prazer a todos!!!

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  2. M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O!!!! Eu já fui a garota do texto e sei exatamente o quanto dói ser mal compreendida pelo seu companheiro quando o assunto é dançar!!! Agora preciso erguer a cabeça e voltar a essa atividade que tanto me dá prazer!!! Me aguardemm...

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  3. É extremamente tocante né Diogo? Eu que estou me encantando com a dança a pouco tempo, sinto que nada nem ninguém pode interferir ou simplesmente podar este prazer imenso.
    A dança é o meu elixir da vida!
    Obrigada pela postagem!!!

    "A minha dança é mais que um ritmo exato,
    Ela é a expressão da minha alma
    Ela é aquilo que as palavras não conseguem expressar..."

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  4. É isso mesmo Chris, é a 'expressão da alma', e ela tem essa necessidade e faz isso através da arte e a arte que escolhemos é a dança! Independente se sabe ou não, se dança bem ou não, o importante é deixar a alma se expressar!

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  5. Muito bom mesmo!

    Foi um dos motivos de eu ter terminado um namoro. E eu ainda nem tinha começado a dançar! rsss Só estava querendo começar e ele nao deixava de jeito nenhum! Terminei o namoro numa quinta e no sábado seguinte já estava fazendo a matrícula numa escola de dança

    =)

    Felizmente hoje estou com alguem que entende esta minha paixão e está se empenhando bastante nas aulas para me acompanhar =)

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  6. Nossa, adorei, acho que isso não se resume somente a dança, mas a todas as coisas que amamos e que o "outro" não compreende.
    Na minha opinião, o respeito aos desejos e vontades, a compreensão desta diferença faz parte de nossas vidas. Entender e aceitar o diferente vale muito a pena, pois aprendemos muito com isso. Uma das tarefas mais difíceis do ser humano é imaginar-se no lugar do outro. Por isso digo que no texto a "dança" pode ser colocada como uma metáfora dos nossos desejos e vontades que devem ser respeitadas por quem quer que seja, pois confiança é tudo, e ninguém deve ser privado de nada nessa vida.
    E nunca ninguém deve deixar de fazer alguma coisa porque o outro não quer ou não gosta, é você quem quer. Para ser feliz devemos viver a vida plenamente e fazer tudo aquilo que desejamos. Nós somos donos de nós mesmos.
    Eu sou apaixonada pela dança e amo demais, ai daquele que tentar me impedir...rs

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  7. Vitor Prado de Carvalho10 de outubro de 2010 às 07:49

    Sou de Vitória mas gosto de ver esse site, os textos são muito bons.

    Um amigo meu disse uma vez sobre a dança:
    "Danço...
    não apenas por dançar,
    mas por sentir em cada partícula de meu corpo
    as notas de uma música que nunca para.
    Uma música que surge dentro de mim,
    cada vez que penso em dança.
    Meu corpo ganha uma vida exuberante,
    um brilho que nenhum ser humano tem.
    Minhas mãos falam várias línguas,
    que todos conseguem entender.
    Meus pés ganham vida como se dançassem sós.
    Meu corpo grita
    todas as palavras do meu espírito,
    como se eu nunca tivesse falado.
    Isso é dançar,
    isso é viver a dança,
    e senti-la cada vez mais.
    Isso é apenas dançar. "

    "E que seja perdido o único dia em que não se dançou"
    (Gustavo Marchetti)

    Eu peço para que não desistam desse mundo exuberante que é a dança.

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