Olá, vamos para mais uma parte da Monografia. O que acho mais interessante no estudo da psicologia é entender como funcionamos, é encontrar uma explicação ou apenas uma explanação para um contexto que é óbvio e que muitas vezes não tínhamos nos atentado. Nos deparamos com um texto, uma palestra ou uma aula que nos auxiliam a entender nossos comportamentos, e também das pessoas com quem nos relacionamos, e com esse entendimento, podemos nos aceitar mais, compreender e respeitar mais nossos próximos e quando necessário, ter base para uma mudança de atitude. Os capítulos de hoje são bem assim, simples e óbvios em seu conteúdo, e que muito nos auxiliam a entender o comportamento humano. O primeiro nos dá base para compreender porque a dança encanta seus praticantes, pura e simplesmente porque proporciona prazer! O segundo nos mostra que precisamos adequar a busca de prazer à realidade. E o último explana sobre como formamos nosso caráter.
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QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO
Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.
Orientadora: Lana Mayer
5 PRINCÍPIO DO PRAZER
O objetivo primário da vida é o prazer. “Esta é uma orientação biológica porque, a nível corporal, o prazer proporciona o bem-estar do organismo, e a própria vida” (LOWEN, 1982, p. 118). A dor, ao contrário, é sentida como uma ameaça ao organismo. Fugimos de situações dolorosas e buscamos as que proporcionem o prazer, quando a situação contém uma promessa de prazer, associada a uma ameaça de dor, sentimos ansiedade.
O prazer é o resultado da satisfação de uma necessidade, por exemplo, comer quando se tem fome ou dormir quando se tem sono. Contudo, o conceito de prazer limitando-o à descarga de tensão ou satisfação das necessidades, para Lowen (1984), é muito estreito para envolver todo o comportamento humano, ele levanta outras situações que levam ao prazer: situações de desafio, como esportes competitivos, onde a tensão aumenta a quantidade de excitação; a excitação em si, quando associada com a liberação, é uma sensação de prazer, como no sexo; novidade é um elemento essencial ao prazer, a repetição de experiências idênticas é entediante; o crescimento, que faz parte do processo contínuo da vida, regozijamo-nos com a expansão e o desenvolvimento de nosso ser, com o aumento de nossa força, com o desenvolvimento da coordenação motora e de habilidades, com o crescimento das relações sociais e com o enriquecimento de nossa vida. “A pessoa saudável tem apetite para viver, aprender e assimilar novas experiências”. (LOWEN, 1984, p.56).
É fácil compreender porque a dança atrai tanta gente, pois é uma atividade que proporciona muito prazer. O desafio de conseguir executar aquele passo, de dançar com aquele par ou aquela música rápida, de dançar como tal pessoa ou melhor que outro; a excitação de uma dança, de um baile, de uma aula com um professor idolatrado; um passo novo, uma técnica nova, um estilo novo; novos conhecimentos, melhor coordenação motora, maior flexibilidade, estimulo à criatividade e a auto-expressão, ampliação do círculo social; entre tantos outros motivos que proporcionam prazer e elevam a vitalidade de seus praticantes.
Porém nem tudo na vida são prazeres. Para nos protegermos de possíveis desprazeres, construímos defesas levantando barreiras psicológicas e musculares, gerando uma atitude neurótica. Essas defesas atuam na forma de um padrão de comportamento chamado de caráter (o capítulo 7 aborda este tema).
O dilema entre o prazer e a dor inicia-se já na infância, entre pais e filhos. Para as crianças, os pais são fontes de prazer, pois proporcionam amor, comida, contato e estimulação sensorial. Quando os pais passam a privar o contato, ou frustrar as crianças e no decorrer do crescimento a punir e ameaçar, estes passam a estar vinculados, na mente das crianças, à possibilidade de dor. Para procurar abafar a ansiedade o indivíduo passa a ativar defesas e, quanto mais cedo na vida tiver surgido a ansiedade, mais profundamente estruturadas estarão suas defesas. O problema é que as defesas mantêm o indivíduo dentro do seu próprio conflito e diminuem a intensidade da vida e a vitalidade do corpo. (LOWEN, 1977). Por exemplo, uma criança que buscou o afeto dos pais no início de sua vida, mas que foi privada do carinho pode gerar uma defesa de independência e assim quando adulta não se permitir receber afeto de outras pessoas, mesmo que estas estejam disponíveis e ela anseie pelo contato.
Lowen (1982) diz que a defesa não bloqueia totalmente todos os impulsos para o prazer, permitindo que certa quantidade passe pela barreira até certo ponto e em determinadas circunstâncias. Se o bloqueio fosse total levaria o organismo à morte, sendo a morte a defesa total contra a ansiedade. Porém toda defesa é uma limitação da vida e também uma morte parcial.
Se entendermos o sentimento de prazer como um movimento expansivo do corpo, na forma de abertura, de busca, de estabelecimento de contato, o movimento inverso, de retraimento, contenção ou retenção podem ser relacionadas a um sentimento de desprazer, podendo inclusive provocar ansiedade ou dor. A dor é o resultado de uma pressão gerada por um impulso que não pôde ser descarregado, que encontrou um bloqueio. Para evitar a dor ou a ansiedade o organismo gera uma defesa suprimindo o impulso, assim a pessoa não sentirá o desprazer, mas também não experimentará o prazer. A supressão do impulso para o prazer, além de reduzir a energia do indivíduo pode gerar distúrbios emocionais e físicos como citou Lowen:
A pessoa limitada pela presença de tensões musculares crônicas, que bloqueiam os canais de comunicação do coração e que limitam o fluxo de energia até a periferia do corpo, sofre de vários modos; sofre com a frustração e com a insatisfação de sua vida, sente ansiedade, sente-se deprimida, sente retraída e alienada, podendo até desenvolver alguns distúrbios somáticos. Dado que estas são as queixas que mais comumente se apresentam ao psiquiatra, deverse-ia admitir que, para eliminá-las, seria preciso recuperar a capacidade total de prazer daquele organismo. (LOWEN, 1982, p. 121).
6 PRINCÍPIO DA REALIDADE
A busca natural do prazer de um organismo é normalmente suspensa em apenas dois casos: no interesse da sobrevivência e em nome de um prazer maior. Em circunstâncias que ameaçam a vida do indivíduo, o prazer e a criatividade passam a ser irrelevantes, o mais importante é sobreviver, a pessoa suportará a dor e passará sem o prazer para continuar viva. No segundo caso, o indivíduo poderá adiar a gratificação imediata de uma necessidade ou de um desejo se for para levá-lo a um prazer maior no futuro. De igual forma tolerará certa dose de dor objetivando alcançar algo que prometa um prazer significante. (LOWEN, 1984). A este segundo caso se dá o nome de princípio da realidade.
O princípio da realidade, em oposição ao do prazer, exige a aceitação de um estado de tensão e o adiamento do prazer de acordo com demandas de situações externas. Por outro lado, promete que tal ação levará a um prazer maior ou ao evitamento de uma dor maior, no futuro. (LOWEN, 1977).
Na criança, a descarga é imediata, pois ela não tem função motora desenvolvida para suporta e administrar a tensão. Na medida em que o organismo se desenvolve, adquire consciência e habilidades motoras e com isso a capacidade de contenção e expressão consciente do impulso, escolhendo quando e como poderá expressar ou descarregar a tensão ou excitação, de acordo com a realidade externa. (DAL-RI, 2010).
O adiamento do prazer imediato não pode ser considerado um ato destrutivo, muitas vezes para se atingir um objetivo que possa ser desfrutado é necessário muito esforço e sacrifício, como um dançarino que se prepara para um grande espetáculo que precisa disponibilizar muito tempo se dedicando à aulas, exercícios, treinos e ensaios, e quando chega no dia da apresentação e tudo ocorre perfeitamente, a sensação de prazer é imensa. Há uma descarga proporcional a todas as tensões e energias acumuladas durante todo o processo de preparação, é um êxtase. “O prazer continuará a ser o principal objeto do indivíduo”. (LOWEN, 1984, p. 71).
Lowen (1977, p.55) definiu saúde como “a habilidade de um organismo em manter seu ritmo de pulsação dentro dos limites do princípio da realidade”.
7 CARÁTER
A pessoa adulta atua simultaneamente em dois níveis: no mental ou psíquico, e no físico ou somático. Para se manter uma personalidade saudável os níveis de funcionamento mental e físico no indivíduo devem atuar em cooperação. Se existem conflitos na personalidade (sentimento e comportamento), estes criam bloqueios à livre manifestação de impulsos e sentimentos. Estes bloqueios limitam a capacidade da pessoa a buscar no mundo à sua volta a satisfação de suas necessidades, nesta medida, os bloqueios representam uma redução da capacidade de sentir prazer.
No início, as inibições são conscientes e servem para livrar a pessoa de mais conflitos e dores. Porém, a contração consciente e voluntária demanda um investimento de energia que não pode ser mantida por tempo indeterminado. Então se faz necessário inibir o sentimento indefinidamente, dado que expressá-lo é algo inaceitável, o ego abandona o controle sobre o ato e retira a energia do impulso. A inibição do impulso passa a ser inconsciente e os músculos devem permanecer contraídos pela falta de energia necessária à sua expansão e descontração.
De acordo com Lowen (1982), a rendição deste impulso tem duas conseqüências: a parte da musculatura a qual se retirou a energia entra em contração crônica ou em espasticidades e impossibilita a expressão dos sentimento inibidos. A pessoa passa assim a não sentir mais o desejo inibido, não que este desapareceu, ele apenas passa a ficar adormecido e distante da consciência. Porém sob condições de extrema tensão ou provocação, o impulso pode tornar-se novamente carregado e romper o bloqueio. A outra consequência é a diminuição do metabolismo de energia do organismo. As tensões musculares crônicas impedem uma boa respiração interferindo no processo metabólico e diminuindo o nível energético do indivíduo.
O baixo nível energético faz com que o indivíduo faça ajustes em seu modo de vida, passando a evitar situações que evoquem seus sentimentos suprimidos. A defesa (couraça) gerada pelo indivíduo para se proteger do impulso ou sentimento, atua a nível psíquico e corporal. O conjunto de defesas desenvolvido pela pessoa é chamado de caráter e este passa a determinar o seu modo de ser e comportar-se, gerando certa padronização de ações com base num modo de se defender que deu certo.
Porém esse modo de viver, restringindo a pulsação como forma de proteção, leva o indivíduo a viver por trás de um muro alto, permitindo-lhe viver e agir de modo limitado e sobre uma área bastante restrita, limitando a busca do prazer fora de si.
REFERÊNCIAS
DAL-RI, Adriana. Análise Bioenergética. Apostila (Curso de Formação em Psicologia Corporal) – Instituto Reichiano, Curitiba, 2010.
LOWEN, Alexander. O Corpo em terapia: a abordagem bioenergética. São Paulo: Summus, 1977.
LOWEN, Alexander. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982.
LOWEN, Alexander. Prazer: uma abordagem criativa da vida. São Paulo: Summus, 1984.