Último capítulo da Monografia, penúltima parte das postagens sobre ela... está terminando... A mono fecha com o capítulo Auto-expressividade, tema intrínseco à dança. O que limita nossa expressão na dança, movimentos aprendidos x espontâneos, ego x self, poder x prazer, questões que refletem diretamente na dança de cada um, independente se é um dançarino de baile que nunca fez aula, um aluno ou um profissional que vive da arte.
Sabe o que diferencia um dançarino que encanta com sua arte, independente do nivel, de outro extremamente tecnico e que executa movimentos dificeis mas que não consegue deslumbrar o público? A forma como ele se expressa!
Boa leitura!!!
QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO
Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.
13 AUTO-EXPRESSIVIDADE
A auto-expressividade descreve as atividade livres, naturais e espontâneas do corpo. Toda atividade do corpo contribui para sua auto-expressão, desde as mais simples como andar e comer, até as mais sofisticadas como cantar e dançar. O indivíduo se expressa em qualquer ação que executa ou movimento que seu corpo realiza. Mas não é só através de ações e movimentos que nos expressamos, a forma e o contorno do corpo, sua cor, cabelo, olhos e sons identificam o indivíduo. Para Lowen & Lowen (1985, p. 57), a maior e mais importante parte de nossa auto-expressão é inconsciente. “Um movimento gracioso, um brilho nos olhos de alguém, o tom de voz, uma vivacidade e vibrações gerais, expressão mais o que somos, do que palavras e ações”. Mas segundo eles, estas qualidades não podem ser cultivadas deliberadamente pelas pessoas, “são manifestações de saúde física e emocional”.
Lowen (1982, p. 229) atribui a qualidade essencial da expressividade à espontaneidade e não a consciência. “Quando comparamos comportamentos espontâneos com comportamentos aprendidos, fica clara a relação dos primeiros com a auto-expressividade”. Considerando o comportamento aprendido uma manifestação do ego e a espontaneidade do self (si próprio), a maioria dos nossos atos contém tanto um elemento aprendido quanto um espontâneo. Quando o controle (ego) e a espontaneidade estão em harmonia a ponto de um suplementar o outro ao invés de tolhê-lo, garantem aos nossos comportamentos maior objetividade e um nível de prazer o mais elevado possível. (LOWEN, 1982, p. 231). Usando a dança como exemplo, a simples repetição dos movimentos aprendidos na aula, por mais que se aplique a mais apurada técnica, não faz com que a dança seja encantadora para quem compartilha ou quem assiste, mas se esta for acrescida de espontaneidade, irá expressar as sensações que a dança, a música e o contato como o par estão lhe proporcionando e com isso a dança não terá apenas movimentos mas expressará vida e proporcionará prazer.
“O prazer é o elemento chave para a auto-expressividade”. (LOWEN, 1982, p. 230). Sentimos prazer enquanto nos expressamos, essa sensação pode ser moderada ou até extasiante (no sexo). O prazer de se auto-expressar não depende de resposta do meio ambiente, podemos, por exemplo, sentir prazer dançando, isso independe das reações dos outros, porém nosso prazer pode aumentar ou diminuir pela reação dos outros, como se somos elogiados ou criticados pela nossa dança.
Cantar, assim como dançar, são ações naturalmente expressivas, mas que podem perder suas qualidades quando se transformam numa exibição, ou seja, quando se está faltando o impulso espontâneo para o ato. Pode-se até sentir uma satisfação do ego, mas quando se diminui a espontaneidade o prazer se reduz proporcionalmente. “O desafio do artista é como manter o alto nível de execução sem perder o sentimento de espontaneidade de suas ações, que confere vida e prazer ao que estiver fazendo”. (LOWEN, 1982, p. 231).
Uma pessoa bloqueada na sua habilidade de expressar sensações e sentimentos, como incapazes de chorar, que não podem esbravejar, que têm medo de mostrar medo, que não podem pedir ajuda, que não ousam protestar; está amortecendo seu corpo e reduzindo sua vitalidade. (LOWEN & LOWEN, 1985). Quando a auto-expressividade está bloqueada ou limitada, a pessoa poderá compensá-la projetando uma imagem do ego. Para Lowen (1982), o modo mais comum de fazer isso é através do uso do poder, mas segundo ele, isto é somente reflexo do senso de inferioridade a nível de si mesmo e de sua expressividade e, adverte que o poder cria apenas uma imagem maior, não um self maior. O autor cita como outra forma de compensação, a pessoa que precisa possuir uma casa grande, um carro potente ou muitas posses para superar uma sensação interna de pequenez, e ressalta que este poderá ser rico, já que esta é sua ambição, mas continua sendo pobre em sua vida interior (espírito) e em sua maneira de automanifestação. Estas observações nos auxiliam a compreender porque muitos artistas e atletas acabam não dando importância aos bens materiais, pois conseguem expressar-se grandiosamente em seus trabalhos e obter, com isso, um prazer imenso, não havendo carência de satisfações egoicas de poder ou posses.
Lowen (1982, p. 232) apresentou uma linha direta conectando a energia à auto-expressividade:
Energia – mobilidade – sentimento – espontaneidade – auto-expressividade
A mobilidade do corpo está relacionada ao seu nível de energia. Para mover-se o corpo precisa de energia, se o nível energético está baixo a mobilidade decresce. Com a mobilidade reduzida o fluxo de sentimentos fica limitado, reduzindo ou ainda anulando a espontaneidade e a auto-expressividade. A sequência também opera no sentido inverso, se a auto-expressividade de uma pessoa estiver bloqueada, sua espontaneidade estará reduzida, o que afetará negativamente a afetividade, que por sua vez diminui a mobilidade do corpo e deprime o nível energético.
É fácil de visualizar essa linha num dançarino, se seu nível energético está baixo, sua mobilidade vai estar reduzida e irá comprometer toda a sua dança. No inverso, se ele for bloqueado na sua auto-expressividade, reduzirá sua espontaneidade, perderá a afetividade, diminuirá a mobilidade e a produção energética será menor para manter o equilíbrio do corpo.
REFERÊNCIAS
LOWEN, Alexander. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982.
LOWEN, Alexander; LOWEN, Leslie. Exercícios de bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante. São Paulo: Ágora, 1985.
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