quarta-feira, 3 de junho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 4

     Boa tarde! As publicações sobre a Monografia tem ocorrido às quintas-feira, porém como amanhã é feriado, essa semana está saindo um dia antes. O capítulo de hoje é muito interessante! Fala das diferentes estruturas de Caráter e do seu comportamento na dança. É muito rico para entendermos nosso padrão de comportamento e como isso se reflete na dança, muitas vezes limitando nosso desenvolvimento e aprendizado.

     O capítulo, como toda a monografia, esta escrito numa linguagem de fácil compreensão inclusive para quem não possui conhecimentos em psicologia. Recomendo a releitura dos Capítulos 4 - Energia e 7 - Caráter antes deste. E se preparem para defrontarem com características sobre seu caráter que nem sempre são tão agradáveis de tomar conhecimento, mas que a Dança de Salão, quando bem trabalhada, pode ajudar a superar e liberar mais energia para que se possa desfrutar do prazer da dança e de viver. Boa leitura!

     QUAL O SEU CARÁTER???


QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.


8 ESTRUTURAS DE CARÁTER

As defesas psicológicas usadas para lidar com a dor e o estresse, tais como racionalizações, negação e supressões também estão ancoradas no corpo e aparecem como padrões corporais cronicamente rígidos. Esses padrões, juntamente com as representações mentais, crenças e valores que os sustentam, constituem a estrutura de caráter, que influencia a auto-percepção física, a auto-estima, a auto-imagem e o intercâmbio com o ambiente. Esses padrões tornam-se inconscientes e passam a fazer parte da própria identidade da pessoa. (WEIGAND, 2005).
De acordo com a bioenergética, as estruturas de caráter são classificadas em cinco tipos básicos, cada qual apresenta um padrão peculiar de defesas tanto a nível psicológico quanto muscular, um comportamento estereotipado que os distingue dos demais. Lowen (1982) ressalta que é importante observar que a classificação não abrange pessoas, mas sim posições de defesa e, também, que ninguém é um tipo puro e que qualquer indivíduo dentro da nossa cultura combina, em graus variados dentro de sua personalidades, algumas ou todas as posições defensivas. Como o trabalho é focado a uma análise com a dança de salão, as estruturas de caráter serão apresentadas com mais ênfase no aspecto físico e energético à aspectos psicológicos.


8.1 CARÁTER ESQUIZÓIDE

Lowen (1982) descreveu o caráter esquizóide como a pessoa cujo senso de si mesma está diminuído, o ego é fraco e o contato com seu corpo e sentimentos está reduzido em grande parte. O pensamento tende a dissociar-se dos sentimentos. Refugiam-se dentro de si mesmas, rompendo ou perdendo o contato com a realidade. 

a) Condição energética: 
O sistema de energia é baixo. A energia concentra-se na área central do corpo, distante da periferia, longe dos órgãos que fazem contato com o mundo (rosto, mãos, genitais e pés). A carga interna tende a endurecer na área central e não flui direto para a periferia, para os órgãos de contato, sendo bloqueada por tensões crônicas situadas na base da cabeça, nos ombros, na pelve e nas articulações dos quadris, fazendo com que a função destes órgãos esteja dissociadas dos sentimentos existentes no centro da pessoa.

b) Aspectos físicos:
O corpo, na maioria dos casos é estreito e contraído. A face tem uma aparência de máscara, os braços pendem, os pés são contraídos e frios e é comum serem revirados, o peso do corpo está jogado na borda dos mesmos, as mãos são frias. Há uma cisão entre as metades superior e inferior do corpo devido a uma tensão crônica na região da cintura.

c) Características:
Dal-Ri (2010) os descreveu como mentais, não corporais, e com conduta não emocional. Possuem dificuldade de contato e tendência a evitar relacionamentos íntimos e afetuosos. São inteligentes, criativos e muito sensíveis.

d) Na dança:
Possuem pouca consciência corporal e uma dissociação entre movimento e sensação ou sentimento, ocasionando movimentos mecânicos e sem expressividade. Lowen descreve o conceito de coordenação motora como um movimento integrado com uma sensação adequada. Como é possível o movimento dissociado “o caráter esquizóide pode ser um excelente bailarino” (LOWEN, 1977, p. 324).
Como a dança de salão é praticada junto com um par, e esta estrutura de caráter possui dificuldade de contato, estes o fazem com um ar de desconfiança, com pouca proximidade e com um contato mecânico, desprovido de emoção.

e) Benefícios da dança de salão:
A dança de salão pode proporcionar às pessoas com essa estrutura de caráter uma maior identificação com o corpo, proporcionar prazer através das sensações corporais, aumentar a expressividade através do movimento e ampliar o contato com a realidade e com outras pessoas. 


8.2 CARÁTER ORAL

No caráter oral a personalidade contém muitos traços típicos da primeira infância, ocasionados pela falta de satisfação das necessidades da criança nesta fase. Lowen (1982) cita traços como fraqueza, tendência a depender dos outros, agressividade precária e sensação interna de precisar ser carregado, apoiado e cuidado. A experiência básica é a carência afetiva.

a) Condição energética:
Possui baixa carga energética, que flui até as periferias, mas de modo minguado. Todos os pontos de contato com o mundo recebem carga, porém menor do que necessária. A falta de energia se nota mais na parte inferior do corpo, e essa fraqueza impede o desenvolvimento da independência e agressividade essenciais ao funcionamento do adulto maduro. A respiração é superficial. (LOWEN, 1977).

b) Aspectos físicos:
O corpo tende a ser esguio e fino. A musculatura é subdesenvolvida (traços infantis podem aparecer). O peito geralmente é murcho. O abdômen não tem vitalidade e quando tocado parece macio e vazio. Tende a compensar a fraqueza das pernas juntando os joelhos, conferindo uma sensação de rigidez obtida à custa da flexibilidade. Os pés são fracos e frequentemente chatos. O peso do corpo está sobre os calcanhares. Tende a ter as costas curvadas, ombros caídos, o que é compensado pela cabeça mais a frente. As nádegas e pélvis são mantidas mais à frente.

c) Características:
Lowen (1977) cita características como: passivo, necessitado, em casos extremos podem se mostrar sugando força e energia de outra pessoa. Não têm habilidade para se tornarem independentes. Relutam em aceitar a necessidade de trabalhar ou empenhar-se. Pode apresentar hiper-irritabilidade. São impacientes e inquietos. Possuem uma urgência obstinada para falar e um apetite morbidamente intenso por comida. Racionais, lógicos, com clareza intelectual excepcional e capacidade verbal muito alta.

d) Na dança:
A baixa carga energética faz com que tenham pouca resistência e que cansem rapidamente. Os movimentos não têm apoio de um fluxo adequado de energia. Lowen (1977, p. 163) descreveu a mobilidade da perna no oral como: “As pernas cansam-se rapidamente em posições de tensões. O controle de seus movimentos é pobre e a coordenação é inadequada”. As pernas e pés fracos prejudicam sua sustentação e equilíbrio além de diminuir o seu contato com o chão (grounding), gerando ansiedade insegurança e falta de ritmo nos movimentos.

e) Benefícios da dança de salão:
A prática constante da dança de salão vai aumentar gradativamente a resistência e por consequência a energia no corpo. O desenvolvimento de uma atividade física tende a ampliar a capacidade respiratória. A dança melhora sua coordenação motora e aumenta o fluxo de energia para os membros inferiores, ampliando seu contato com o chão e com a realidade. O conhecimento e prática de técnicas de dança aumentam a sua segurança e diminui a dependência, a partir do momento que este passa a acreditar e confiar mais em si mesmo. Além de propiciar um ambiente social favorável ao contato e a relacionamentos como de amizade.


8.3 CARÁTER PSICOPÁTICO

A essência deste caráter é a negação do sentimento. O ego, ou mente, volta-se contra o corpo e seus sentimentos. A negação dos sentimentos é basicamente uma negação das necessidades. Há um grande acúmulo de energia na própria imagem. Possui uma motivação de poder e a necessidade de dominar e controlar. Lowen (1982) adere essa necessidade de controle ao medo de ser controlado, de ser usado, e a motivação de estar por cima ao medo da ocorrência de um fracasso, o que o colocaria numa posição de vítima.
A defesa básica do psicopático é controlar tudo, incluindo a manipulação do próprio self. O domínio sobre os outros pode se dar de dois modos: oprimindo e atormentando, usado pelo tipo tirânico; ou debilitando a pessoas por meio de aproximações sedutoras, praticado pelo tipo sedutor.

a) Condição energética:
No tipo tirânico há um deslocamento nítido de energia em direção da extremidade cefálica do corpo, com grande redução de carga na parte inferior do organismo. No tipo sedutor a carga na pelve é excessiva e desconectada.
Segundo Lowen (1982), “a cabeça comporta uma carga de energia acima do normal, o que significa a existência de uma hiperexitação da capacidade mental”. Há um distúrbio do fluxo entre as duas metades do corpo. Apresentam espasticidade acentuada no diafragma e tensões nítidas no segmento ocular e ao longo da base do crânio.

b) Aspectos físicos:
O corpo do tipo tirânico mostra um desenvolvimento desproporcional da metade superior, dando a impressão de estar cheio de ar; isto corresponde à imagem de ego da pessoa, toda cheia de si. A estrutura é rígida e pesada no topo. A parte inferior é mais estreita e pode apresentar a fraqueza típica da estrutura de caráter oral. O tipo sedutor possui um corpo mais regular e em geral as costas são hiperflexíveis.

c) Características:
Controlador e manipulador. Descrente e cético, aceita apenas a sua realidade. Tem grande dificuldade em ceder. Competitivo, deve sempre ganhar. Inteligente, eloquente e com boa capacidade de argumentação.

d) Na dança
Os movimentos são mecânicos e dissociados de sentimentos. São controladores e algumas vezes adotam um comportamento agressivo. São criativos e com uma boa capacidade de memorização.

e) Benefícios da dança de salão:
Como este tipo de caráter tem dificuldade de ser convencido, a experimentação através do corpo se faz mais eficaz. Assim como no caráter oral, a prática da dança proporciona um maior contato com o chão e com a realidade, fazendo a energia descer para os membros inferiores. Trabalhos com contato e musicalidade podem despertar uma maior integração com seus sentimentos e sensações.


8.4 CARÁTER MASOQUISTA

Esta estrutura de caráter descreve aquele que sofre e lamenta-se, que se queixa e permanece submisso. Enquanto o indivíduo apresenta uma conduta externalizada submissa, internamente, acolhe sentimentos intensos de despeito, negatividade, hostilidade e superioridade, que na sua inabilidade de expressão acabam sendo retidos e quando muito carregados tendem a explodir num violento comportamento social. O medo de explodir é contraposto por um padrão muscular de contenção. “A ambivalência e a incerteza identificam todos os aspectos do comportamento masoquista.” (LOWEN, 1977, p. 206)

a) Condição energética:
É dotado de um alto nível de energia, no entanto, está fortemente presa do organismo, mas não sedimentada. Devido à severa contenção interna, os órgãos periféricos estão pouco carregados, o que impede tanto a descarga quanto a liberação energética, limitando as ações expressivas.
Os impulsos que se movem para cima e para baixo são estrangulados no pescoço e na cintura, o que é responsável por uma forte tendência de sentir ansiedade.

b) Aspectos físicos:
O corpo típico do masoquista é curto, grosso e musculoso. O pescoço é curto e grosso, semelhante à cintura, que também é mais curta e grossa. A pelve está projetada para frente e para cima. A pele tende a um tom acastanhado devido à estagnação da energia.
Lowen (1982) cita mulheres com uma combinação de rigidez na metade superior do corpo com masoquismo na metade inferior, demonstrado por nádegas e coxas pesadas, por um soalho pélvico encolhido para cima e pela tonalidade escura da pele, decorrente da estagnação da energia.

c) Características:
Ansiedade de encarar o prazer. Dificuldade de expressão. Desejo de aprovação, muitas vezes buscado na forma de trabalho e esforço. Desconfiança e dúvida. Autodepreciação verbal e/ou na aparência (descuidada ou mal vestida, com roupas feias). Teme o sucesso, pois este o põe em evidência e provoca fortes ansiedades ao lado do exibicionismo. Tende a apresentar queixumes e lamentos.

d) Na dança:
As severas tensões dificultam uma postura ereta e limitam os movimentos naturais. Os movimentos geralmente são bruscos, pesados e quase sempre sem expressão. A ansiedade prejudica a manutenção do ritmo e interfere na condução do cavalheiro, fazendo com que comecem um movimento antes de terminar o anterior e na resposta da dama tentando prever ou adivinhar o próximo passo. São esforçados e dedicados.

e) Benefícios da dança de salão:
A dança se apresenta como uma ótima oportunidade de expressividade, de descarga como forma de aliviar tensões e de aumento da capacidade de sentir prazer. Trabalha a ansiedade. Os movimentos de extensão e alongamento possibilitam aliviar as tensões crônicas e a musculatura superdesenvolvida. Os movimentos de pernas e quadris possibilitam aliviar as tensões nestas regiões. A movimentação corporal na dança faz com que a energia que esta estagnada circule por todo o corpo, permitindo uma movimentação mais livre. A prática constante da dança de salão faz com que o indivíduo masoquista adquira mais confiança e assertividade e melhore seu relacionamento com os pares e colegas.


8.5 CARÁTER RÍGIDO

Lowen (1982) relacionou o conceito de rigidez às tendências destas pessoas a se manterem eretas, de orgulho. A cabeça portada bem erguida e a coluna reta. Traços que seriam positivos não fosse o fato de ser o orgulho um sentimento defensivo, e a rigidez algo não flexível. O indivíduo de caráter rígido tem medo de ceder, pois iguala o ato de submeter-se com perder-se completamente.

a) Condição energética:
A carga energética é razoavelmente poderosa em todos os pontos periféricos de contato com o meio ambiente. A contenção é periférica, permitindo os sentimentos fluírem, mas a manifestação é limitada. Os músculos longos do corpo são as principais áreas de tensões. Há vários graus de rigidez, quando a contenção é moderada, a personalidade é ativa e vibrante.

b) Aspectos físicos:
O corpo é proporcional e mostra harmonia entre as partes. A pessoa se sente integrada e conectada. Lowen (1982, p. 147) destacou como “uma característica importante é a vivacidade do corpo: olhos brilhantes, boa cor de pele, leveza dos gestos e movimentos.” Se a rigidez for grave a coordenação e a graça dos movimentos serão diminuídas, os olhos perderão um pouco de seu brilho e a pele adotará uma tonalidade pálida ou acinzentada.

c) Características:
São geralmente mundanos, ambiciosos, competitivos e agressivos. São determinados e podem se tornar teimosos. Insensíveis, têm dificuldade de expressar sentimentos. Geralmente são bem sucedidos social e economicamente.

d) Na dança:
O indivíduo de caráter rígido é o que possui maior identificação com o corpo, resultando em maior coordenação física e aprendizado rápido. A vivacidade observada por Lowen reflete em movimentos belos e harmoniosos. Quando a rigidez é muito acentuada, o movimentos ficam duros e limitados pela inflexibilidade. Quando a expressão dos movimentos é dissociada de sentimentos, estes parecem sem vida.

e) Benefícios da dança de salão:
A prática da dança de salão tende a flexibilizar a rigidez física e proporcionar contato com os sentimentos. Auxilia no equilíbrio energético proporcionando oportunidade para a descarga do excedente.

REFERÊNCIAS
DAL-RI, Adriana. Análise Bioenergética. Apostila (Curso de Formação em Psicologia Corporal) – Instituto Reichiano, Curitiba, 2010.
LOWEN, Alexander. O Corpo em terapia: a abordagem bioenergética. São Paulo: Summus, 1977.
LOWEN, Alexander. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982.
WEIGAND, Odilia. Grounding na Análise Bioenergética: Uma proposta de atualização. Tese (Mestrado em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário