sexta-feira, 19 de junho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 6

     Olá pessoal, já estamos nos últimos capítulos da Monografia, e por sinal os mais interessantes! Enquanto os anteriores nos traziam entendimento sobre o porque de nossos comportamentos na vida e na dança, este os seguintes nos mostrarão caminhos para mudanças e vão justificar o título do trabalho 'Aumentando a Vitalidade por meio da Bioenergética e da Dança de Salão'. 
     Este capítulo fala sobre ter base, estar em contato. Quem já fez aula comigo sabe o quanto cobro do aluno estar com os pés no chão e com os joelhos levemente flexionados, com essa leitura poderão compreender melhor a importância dessa postura e os benefícios que ela proporciona.

     Boa leitura! E fiquem a vontade para compartilhar e comentar!


QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.



10 GROUNDING

     Na Bioenergética, grounding é o contato da pessoa com o chão, é estar com os pés no chão e não suspensa no ar. Segundo Lowen (1982, p. 169), “a pessoa que não está em contato com o solo também não está em contato com a realidade, na mesma proporção”. A pessoa firmemente plantada na terra está identificada com seu corpo, ciente da sua sexualidade e orientada para o prazer, qualidades que faltam à pessoa que está ‘suspensa no ar’, ou na sua cabeça.
     Na cultura em que vivemos, temos dado muita ênfase à parte superior do corpo, através do incentivo ao desenvolvimento do intelecto, de habilidades manuais e verbais, com isso nos afastamos da metade inferior, que é de natureza muito mais animal em suas funções (locomoção, defecação e sexualidade). Funções mais instintivas e menos submetidas ao controlo consciente. Lowen faz uma observação que pode ser diretamente ligada a dança: 

(...) é em nossa natureza animal que residem as qualidades de ritmo e graça. Qualquer movimento que flui livremente da parte inferior do corpo tem tais qualidades. Quando nos puxamos para cima e para longe da metade inferior do corpo, perdemos muito do nosso ritmo e graça naturais. (LOWEN & LOWEN 1985, p.25)

     Aqui encontramos o primeiro aspecto onde o grounding interfere diretamente na dança, a qualidade dos movimentos. O grau de sensação de contato com o chão varia largamente de pessoa para pessoa. Quanto maior o grounding do dançarino, mais rítmicos e graciosos são seus movimentos, possui maior força e precisão e a dança é executada sem esforço e sabiamente. Quanto menor o grounding, mais o dançarino tende a compensar tecnicamente, porém, nesta condições, os movimentos deixam de fluir livremente e passam a ser mecânicos, e por mais que sejam perfeitamente executados, a dança perde a vivacidade, ou usando os termos do Lowen, os movimentos perdem a “graça natural”.
     O outro aspecto a qual o grounding interfere na dança, está relacionado a segurança. Lowen & Lowen (1985, p.23) dizem que “grounding implica em conseguir que a pessoa ‘deixe acontecer’, fazendo seu centro de gravidade recair mais embaixo; implica em fazê-la sentir-se mais perto da terra. O resultado imediato é que aumenta seu senso de segurança.” A pessoa altamente carregada ou excitada tende a ir para cima, voar. Nestas condições, apesar da sensação de excitação, ou elação, há sempre um elemento de ansiedade e perigo, o perigo de cair. A direção descendente, de acordo com Lowen & Lowen (1985), é o caminho para o prazer, da liberação ou descarga, o estado inconsciente de se manter suspenso gera medo de cair, medo de falhar e, portanto, medo de deixar acontecer e da entrega aos próprios sentimentos. Este estado de insegurança reflete diretamente no comportamento do dançarino, prejudicando a postura, o equilíbrio, a manutenção do ritmo, e a comunicação entre os pares, a ansiedade induz o cavalheiro a conduzir o próximo passo precipitadamente e a dama a tentar prever e se antecipar ao próximo movimento. O medo de falhar faz com que o dançarino se mantenha em uma zona de conforto, executando apenas movimentos que sente segurança e dançando com pares conhecidos ou que estejam no mesmo nível de dança ou inferior. O medo de deixar acontecer e da entrega aos sentimentos impede que o dançarino possa desfrutar de todo o prazer que a dança pode proporcionar, Lowen & Lowen (1985, p.24) dizem que “as pessoas que têm medo desse deixar acontecer são bloqueadas em sua habilidade de entrega total à descarga e não conseguem experimentar a total satisfação”.
     A dança de salão, praticada em bailes, é executada totalmente de improviso, utiliza-se movimentos e técnicas aprendidos e treinados durante as aulas, mas quando executados num baile sofrem influencia de vários fatores, como o par com quem se está dançando, se é do mesmo nível de dança, se a condução do cavalheiro é clara e precisa, se a resposta da dama é precisa, se a dama propõe movimentos; o local, se possui costumes próprios como ronda do salão ou normas como não executar passos aéreos; as condições do salão, como piso escorregadio ou prendendo, salão cheio, pessoas paradas no meio da pista, iluminação; a leitura que os dançarinos fazem da música (musicalidade); o estado emocional dos dançarinos naquele dia, naquela dança; entre outros fatores, tudo isso influencia na dança. Quanto menor o grounding, menor é o senso de segurança do dançarino, e maiores são as influencias que o meio externo exerce sobre sua dança gerando insegurança e/ou ansiedade.
    Lowen destaca a importância do posicionamento dos joelhos para aumentar e permanecer em grounding, eles devem ser mantidos discretamente flexionados o tempo todo. Quando os joelhos estão trancados enquanto se está de pé, toda a parte inferior do corpo, dos quadris para baixo, torna-se uma estrutura rígida que funciona então como suporte mecânico de locomoção, impedindo o indivíduo de fluir para a parte inferior do corpo e identificar-se com ela. (LOWEN & LOWEN, 1985). Quando observamos uma pessoa “dura” dançando, pode-se notar que esta utiliza muito pouco ou quase nada das articulações em seus movimentos, principalmente joelhos, tornozelos e quadril, o seu corpo se movimenta como um bloco, de forma rígida. Os joelhos são responsáveis por absorver os choques do corpo, funcionam como amortecedores. Quando o corpo sofre uma pressão, de caráter física ou psicológica, os joelhos se flexionam e permitem que a força seja transmitida através do corpo até o chão. Se os joelhos estão trancados, a força fica congestionada na região lombar das costas, produzindo uma condição de pressão (stress) que resultará num distúrbio de coluna lombar (LOWEN & LOWEN, 1985).
     Bioenergeticamente falando, grounding serve para o sistema energético do organismo da mesma forma que para um circuito elétrico de alta tensão e é constituído de uma válvula de segurança para descarga de excessos de excitação. Num sistema elétrico, o acúmulo súbito de carga pode queimar uma parte da instalação ou provocar um incêndio. “Na personalidade humana, o acúmulo de energia também poderá ser perigoso caso a pessoa não tenha contato com o chão. A pessoa pode fragmentar-se, ficar histérica, sentir ansiedade ou entrar em depressão.” (LOWEN, 1982, p. 171).
     Pernas firmes, com energia e bem plantadas no chão implicam uma percepção de si mesmo e da realidade externa que resulta no sentimento de segurança. Quanto mais a pessoa sente seu contato com o chão, mais consegue pôr-se em seu lugar, mais carga consegue suportar e mais sentimentos consegue manipular. (LOWEN, 1982). Se o indivíduo estiver bem grounded, seu corpo estará naturalmente equilibrado, ereto e firme. Sua energia fluirá naturalmente. Poderá inclusive notar que seus olhos estão vendo mais claramente e sua visão melhorou. (LOWEN & LOWEN, 1985).


REFERÊNCIAS
LOWEN, Alexander. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982.
LOWEN, Alexander; LOWEN, Leslie. Exercícios de bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante. São Paulo: Ágora, 1985.

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