sexta-feira, 12 de junho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 5

     Olá pessoal! “Não há palavras mais claras do que a linguagem da expressão corporal, uma vez que se tenha aprendido a lê-la” (Lowen).

     Boa leitura!!!


QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.



9 LINGUAGEM DE EXPRESSÃO CORPORAL

     Nosso modo de viver é a consequência do caráter ou personalidade que formamos, com defesas psíquicas e somáticas estruturadas, levando a ações, comportamentos e reações que passam a ser padronizados. Esta personalidade passa a ser expressa em cada ação ou atitude, tornando-se nossa linguagem de expressão corporal. Lowen (1977, p.101) afirma que “não há palavras mais claras do que a linguagem da expressão corporal, uma vez que se tenha aprendido a lê-la”. Em seu livro O Corpo em Terapia: a abordagem bioenergética, Lowen apresenta aspectos físicos com correlatos psíquicos e comportamentais, que contribuem muito para a leitura corporal e a compreensão do indivíduo na vida e na dança. Abaixo seguem algumas associações apresentadas no livro:
      Começando pelas pernas e pés, que constituem as bases e suporte do ego, eles têm a função de contato com o chão e estar no chão é estar em contato com a realidade, o oposto de “estar nas nuvens”. Além das funções de suporte, equilíbrio, enraizamento, as pernas são as estruturas mais importantes na função de movimento corporal. Se a função de suporte é fraca, podemos também esperar problemas de mobilidade. Medimos a mobilidade nas pernas pela habilidade em mover livremente a pélvis sem usar qualquer parte do tronco no movimento. Movimento semelhante ao exigido em danças como samba, salsa e zouk. Requerem uma articulação relaxada e flexível no joelho, a pélvis solta dentro do tronco e o relaxamento de todos os músculos das pernas. Existem três condições que impedem esta mobilidade básica: fraqueza, volume e rigidez. 
     Indivíduos que têm os músculos das pernas subdesenvolvidos, tornozelos fracos e pé chato, encontrarão séria dificuldade na execução e manutenção de tais movimentos. Em primeiro lugar, sofrem de uma falta de controle sobre os músculos necessários e, em segundo, cansam-se muito facilmente. As grossas, gordas e volumosas coxas apresentam falta de mobilidade tão pronunciada que dizemos que tais pessoas têm “chumbo nos pés”. O acúmulo de gordura ao redor das nádegas e coxas é interpretado na bioenergética como resultado de uma estagnação da energia nesta região devido à mobilidade inibida. Nas pernas rígidas, os músculos são tão contraídos que frequentemente o equilíbrio se vê ameaçado. A rigidez deve ser encarada como uma compensação pelo sentimentos de fraqueza. O andar de indivíduos com músculos das pernas hipertônicos é mecânico e rápido, dado que em face de um relaxamento, manifestam-se sentimentos de fraqueza e insegurança.
     As pernas podem ser fracas, pesadas ou rígidas, ou ainda apresentar uma mistura desses elementos. Na análise da estrutura, dá-se atenção a cada componente, bem como ao aspecto total. Os pés podem ser estreitos ou largos, os dedos apertados uns contra os outros ou afastados, o arco caído, relaxado ou severamente contraído. Os músculos da perna podem ser informes ou nodosos. Os pés na postura natural da pessoa podem estar retos e paralelos, virados para fora em virtude da espasticidade dos músculos glúteos ou virados para dentro. Cada problema é percebido em termos de seus efeitos sobre a função de suporte e movimento.
    Quando analisamos corporalmente uma pessoa, nossa atenção se dirigi primeiramente para sua postura. Está ereto, quase caindo para trás ou debruçado para frente? O peso do corpo está colocado sobre as pernas ou sobre o sacro? O paciente está de pé sobre seus calcanhares ou sobre a parte arredondada da sola dos pés? Quando o peso do corpo está diretamente colocado sobre os tornozelos, a posição em pé pode ser facilmente destruída por um pequeno empurrão para trás. Agressividade ou movimento não são possíveis, exceto por uma pressão exercida através da parte anterior do pé.
A relação da pélvis com as pernas e o tronco é muito importante devido à função genital. A pélvis pode ter uma movimentação livre, o que confere a graça especial do movimento, ou pode estar imobilizada numa posição de avanço ou recuo. É evidente a quebra da linha natural do copo nestas últimas posições. Com a pélvis mantida para frente e erguida, ocorre tensão nos músculos abdominais, espasticidade no reto abdominal e contração das nádegas. A impressão é de que o indivíduo está fechando os canais naturais de descarga. Uma pélvis imóvel está associada a uma diminuição da potencia sexual. A pélvis bastante retraída, fixada nessa posição, representa uma severa repressão sexual.
     A espinha dorsal é um elemento importante na estrutura corporal. A fraqueza nesta região deve estar refletida num sério distúrbio de personalidade. O indivíduo com uma corcunda para trás, não pode ter a mesma força de ego de uma pessoa que tem as costas retas. Por outro lado, a rigidez da espinha, embora aumentando a força do suporte, diminui a flexibilidade. Além disso, tais indivíduos frequentemente têm dores nas costas. (Nestes casos, a redução da tensão nos músculos lombossacrais, a mobilização da pélvis, a análise do conflito reprimido e a resolução do problema do impulso inibido, resultaram no completo desaparecimento da dor e dá má colocação). A rigidez da espinha dorsal não é só evidente na perda da flexibilidade do movimento, pode ser sentida através do tato na tensão dos músculos lombares.
     Desde que Reich chamou a atenção para a importância da respiração no fluxo dos sentimentos, o estudo dos movimentos respiratórios ocupa um importante lugar na análise bioenergética. Procura-se ver se o peito está aumentando e mantido rigidamente nesta posição, ou se está à vontade, relaxado. Um peito estufado é o reflexo de um ego estufado. Por outro lado o peito relaxado, embora em relação com maior sentimentalidade, não necessariamente indica saúde. Numa estrutura saudável o peito está relaxado e os movimentos respiratórios mostram a unidade de peito, diafragma e abdômen na inspiração e expiração.
     A posição e mobilidade dos ombros são tão significativas para as funções do ego quanto às pernas e pélvis são para as funções sexuais. Várias atitudes são facilmente discerníveis. Ombros retraídos representam raiva reprimida, uma detenção do impulso de golpear; ombros levantados estão relacionados ao medo; ombros quadrados expressam a atitude de arcar com a responsabilidade; ombros caídos traduzem a sensação de carga, do peso de uma pesada mão. Ombros têm um papel importante na mobilidade do peito, dado que sua articulação vai desde a espinha dorsal, através dos rombóides, até o externo, na frente, através dos músculos peitorais. Distúrbios na articulação do ombro, portanto, afetarão a função respiratória. Sendo estender-se para frente a função básica dos braços, nos primatas tanto para tomar como para dar, para agarrar ou golpear a extensão e qualidade deste movimento é uma medida do ego. De acordo com os distúrbios físicos relacionados ao caráter, visualizamos indivíduos com comportamentos diferentes: o caráter esquizóide não se estende para o mundo; o oral se estende somente face a condições favoráveis; o masoquista vai e depois se retira, portanto, falha; e o rígido tende a agarrar.
     Os braços e o corpo formam uma unidade, esta unidade, entretanto, está sujeita às limitações da estrutura do caráter. No esquizóide há uma dissociação entre braços e o corpo, devido a tensões muito profundas na junção dos ombros ao corpo. Isto confere ao movimento dos braços uma qualidade mecânica e os ombros, congelados, participam de forma muito limitada nos movimentos dos braços. Devido ao fato de o que o corpo não toma parte dos movimentos de estender-se a frente, dizemos que o esquizóide não se lança ao mundo. O caráter oral se queixa de sensações de fraqueza e impotência nos braços, isso se dá devido à algumas musculaturas que ligam os braços ao corpo serem superdesenvolvidas e contraídas de modo crônico e outras serem subdesenvolvidas. Isto responde pela dificuldade que o oral tem de estender-se para dar e receber. O masoquista exibe uma condição muscular encolhida em seus braços, como no resto do corpo. Seus movimentos são descoordenados, desgraciosos e difíceis. É difícil para o masoquista esforçar-se em se lançar para frente e manter tal postura. Na estrutura rígida, o homem fálico-narcisista, os movimentos são coordenados e altamente carregados, as tensões são periféricas. A grande carga atuando contra uma forte tensão periférica confere às mãos um caráter de agarrar, um aspecto de garra.
     Pode haver uma antítese entre as metade superior e inferior do corpo. Não é incomum encontrar um homem com os ombros muito largos e quadris magros, estreitos, pernas de aparência frágil. É como se toda a energia estivesse concentrada na metade superior, deixando impotente a inferior. Na prática, na medida em que as pernas se fortalecem e aumenta a potência sexual, os ombros caem, o peito diminui de tamanho e o centro de gravidade cai apreciavelmente. A distribuição da musculatura no corpo humano é tal, que sua maior parte está concentrada nos quadris e pernas. Isto provê suporte ao homem, para sua habilidade de manutenção da posição ereta.
     O modo de sustentar a cabeça está em relação direta com a qualidade e poder do ego. Observamos pescoços longos e orgulhosos, encolhidos e enterrados nos ombros e cabeças inclinadas de lado que parecem estar fora do lugar.
    Quanto a expressão da face, nos é mais familiar o estudo, pois o efetuamos inconscientemente durante toda nossa vida. Podemos determinar a intensidade da expressão, bem como sua qualidade. Alguns olhos são vivos e brilhantes, outros brilham como estrelas, outros são aborrecidos e muito vagos. A expressão obviamente muda, procuramos, portanto, pelo olhar típico. Alguns olhos são tristes, outros rancorosos, alguns duros e frios, outros doces e envolventes.
    Frequentemente aparecem numa mesma face duas expressões conflitantes. Os olhos podem parecer fracos e abatidos, enquanto o queixo é forte e protundente. Ou pode ser que o queixo seja fraco enquanto os olhos são fortes. Se os músculos do queixo forem superdesenvolvidos, existe um bloqueio no fluxo de energia para os olhos. O queixo é uma estrutura móvel que lembra a pélvis quanto a sua movimentação. Pode ser imobilizado tanto numa posição protrundente como numa retraída, ambas representando um decréscimo na mobilidade. O queixo que não pode se mover para frente na agressão ou amenizar-se na ternura, é considerado patológico em termos de função. Muitas expressões estão relacionadas à posição do queixo. Na medida em que se move para frente, expressa determinação, um pouco mais à frente, assume expressão de luta, enquanto que a protrusão extrema indica desafio. O número e variedade de expressões que podem aparecer na fisionomia de um indivíduo é enorme.
    A leitura corporal nos auxilia na nossa próprio compreensão e na dos demais, nos ajuda a compreender as limitações de mobilidade e expressão e, principalmente, nos dá diretrizes para o trabalho com o corpo.
     Nos capítulos seguintes veremos como as pessoas inibem ou bloqueiam o fluxo de excitação no seu corpo e assim reduzem a sua vitalidade.


REFERÊNCIAS
LOWEN, Alexander. O Corpo em terapia: a abordagem bioenergética. São Paulo: Summus, 1977.

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