quinta-feira, 25 de junho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 7

     Você tem noção do quanto a má respiração interfere no desempenho do dançarino? Respirar mal gera maior tensão, mais ansiedade, produz mais suor, reduz a vitalidade e faz cansar precocemente. Respiração é o capítulo desta postagem da Monografia, um tema a  qual damos pouca atenção mas que define como vivemos.

     Antes de você continuar lendo, proponho um exercício, uma simples observação sobre sua respiração, pare alguns segundos e observe como está sua respiração. Não mude ela, apenas observe. Quais partes do seu corpo participam do movimento de respiração? Garganta, peito, abdomem, pelve? A respiração é curta ou mais profunda? Sente tensão em alguma parte do seu corpo? Durante a leitura observe se ela muda, se gera alguma tensão. Procure não julgar ou inibir, apenas observe! ;)

     Recomendo a leitura ou a releitura do capítulo anterior, o Grounding, para melhor compreensão deste. Boa leitura!!!



QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.



11 RESPIRAÇÃO


     O grounding está intimamente relacionado à respiração, quanto mais você se deixa interiormente acontecer, mais profunda é sua respiração. Para viver é preciso respirar e quanto melhor for a respiração, mais vivo irá se sentir. Através da respiração conseguimos o oxigênio para manter aceso o fogo do nosso metabolismo, e isto nos assegura a energia que precisamos. Mais oxigênio cria um fogo mais quente e produz mais energia (LOWEN & LOWEN, 1985). Uma respiração inadequada, de acordo com Lowen (1984, p. 31), reduz a vitalidade do organismo, a combustão metabólica não queima bem na ausência de oxigênio suficiente, “em vez de brilhar com a vida, a pessoa com má respiração é fria, inerte e sem vida. Não tem calor nem energia. Sua circulação é afetada diretamente pela falta de oxigênio.”
    A maioria das pessoas respira mal. Lowen & Lowen (1985) destacam o fato que os adultos tendem a apresentar padrões desorganizados de respiração, devido a tensões musculares crônicas, que distorcem e limitam sua respiração. Essas tensões são o resultado de conflitos emocionais que se desenvolveram ao longo do seu crescimento. 
  Além da respiração superficial, a maioria das pessoas têm uma forte tendência a prender a respiração em qualquer situação de estresse, mesmo em situações simples como dirigir, digitar, aguardar para serem atendidas ou dançarem. O resultado disso é o aumento da tensão. De acordo com Lowen (1984), a respiração inadequada provoca ansiedade, irritabilidade e tensão. Toda dificuldade em respirar causa ansiedade, se a dificuldade for grave pode levar ao pânico ou ao terror.
   Infelizmente é mais comum do que imaginamos a deficiência respiratória nos dançarinos, além daquelas originadas pelas tensões crônicas ao longo do corpo, que limitam o fluxo energético e o respiratório, deparamos com situações de estresse na dança, e não estamos falando de dançarinos profissionais, mas de pessoas comuns, que buscam a dança de salão como hobby, que quando se vêem com dificuldades de aprendizado, de execução, de compreensão, pouco a vontade com o par ou com o ambiente, quando se sentem avaliados, expostos ou em diversas outras situações, tendem a limitar ou a prender a respiração, o resultado é o aumento da tensão. Se levarmos em conta este ciclo e considerarmos o fator falta de grounding como insegurança e que este leva à sensação de estresse, podemos chegar a seguinte equação:

DANÇA: (-) grounding - (+) estresse – (-) respiração – (+) tensão
= cansaço, exaustão, fadiga, e suor.

(-) grounding = menor segurança
(-) respiração = menor produção de energia
(+) tensão = maior consumo de energia
(+) suor = esforço físico + tensão + estresse

     Quanto menor a segurança do dançarino, mais ele encontra-se suscetível à sentir-se estressado durante a dança, pegamos, por exemplo, um dançarino com um nível mais básico de dança, que vai dançar uma música rápida com um parceiro que não está habituado, temos pelo menos, dois fatores gerando estresse, a música rápida e o parceiro desentrosado. Como o corpo tende a prender a respiração numa situação de estresse, isso vai gerar tensões no corpo, o pouco oxigênio inspirado vai diminuir a produção de energia, e as tensões musculares vão consumir mais energia, resultado: temos um corpo consumindo mais energia pela atividade em exercício (neste caso a dança) e também para manter as tensões geradas pelo estresse, e que produz menos energia por prender a respiração e reduzir o oxigênio do metabolismo, com isso o organismo tende a ficar cansado ou ainda exausto conforme o consumo de energia. Além disso temos a produção do suor, que quando em excesso causa desconforto no dançarino e no parceiro. Suar ou transpirar serve para manter a temperatura do corpo e evitar o superaquecimento em ambientes quentes ou durante exercícios ou esforço físico. A transpiração também ocorre quando sentimos fortes emoções ou estresse, independente da temperatura. Este tipo de transpiração é normalmente conhecido como “suor frio”. “Emoções como medo, ansiedade ou estresse ativam a liberação do hormônio adrenalina e é essa descarga de adrenalina que desencadeia uma série de eventos no organismo, um dos quais é a transpiração.” (Tudo sobre a Transpiração, 2013). No exemplo acima, além do esforço físico realizado pela dança que aumenta a temperatura do corpo, e faz o corpo suar, temos o agravante da tensão e do estresse que a situação lhe proporciona aumentando a transpiração do dançarino.
     Lowen (1984, p. 33) atribui a dificuldade para respirar profundamente e com facilidade, ao medo de sentir, pois a respiração cria sensações. As pessoas “têm medo de sentir sua tristeza, sua raiva e suas apreensões”. Quando eram crianças seguravam a respiração para não chorar, puxavam o ombro para trás, tensionando o peito para conter a raiva e apertavam a garganta para evitar um grito. “O efeito de cada uma dessas manobras é a limitação e a redução da respiração. Da mesma maneira a contenção de qualquer sentimento resulta numa inibição da respiração”. Quando adultos, continuam a inibir a respiração para manter esses sentimentos reprimidos, dessa forma, a incapacidade para respirar normalmente torna-se o principal obstáculo para se recuperar a saúde emocional.
     A respiração saudável é uma ação do corpo todo, todos os músculos do corpo são envolvidos, em algum grau. A frente do corpo se move como um todo num movimento ondulante. Este tipo de respiração pode ser observado em crianças pequenas e animais, cujas emoções não foram bloqueadas. Toda tensão, em qualquer parte do corpo, perturba o padrão normal. A expiração, contudo, é um processo passivo, melhor exemplificado por um suspiro.
    Podemos pensar em movimentos respiratórios como ondas. A onda inspiratória começa fundo na pelve e flui para cima, até a boca; a onda expiratória percorre o caminho inverso. Lowen (1984, p. 34) descreveu dois distúrbios típicos da respiração, no primeiro, a respiração praticamente só acontece no peito, com uma relativa exclusão do diafragma e os músculos abdominais encontram-se fortemente contraídos. Essas tensões eliminam as sensações da parte inferior do corpo. O peito esvazia-se e, geralmente, torna-se estreito e apertado. A inspiração é limitada e, como resultado, verificam-se uma oxigenação e um metabolismo baixos. No segundo tipo, o peito vê-se imobilizado apesar do diafragma e do abdômen superior estarem relativamente livres. O peito geralmente mantém-se numa posição dilatada e os pulmões contêm uma grande quantidade de reserva de ar. Sentem dificuldade em esvaziar completamente os pulmões. A expiração é um procedimento passivo, equivale a “deixar acontecer”. A expiração completa é como ceder, aceitar a supremacia do corpo. Deixar que o ar saia é vivido por eles como uma perda de controle, o que eles temem. A respiração diafragmática é mais eficiente do que a torácica, pois fornece uma quantidade máxima de ar para um mínimo de esforço, contudo, a menos que tanto o peito como o abdômen estejam agindo durante a respiração, a unidade do corpo é quebrada e as reações emocionais ficam limitadas.
    A expiração induz ao relaxamento de todo o corpo, libera o ar retido nos pulmões e, neste processo, libera toda e qualquer outra retenção. “As pessoas que têm medo de se soltar apresentam dificuldades para uma expiração. (...) Por outro lado, as pessoas que têm medo de ir ativamente ao encontro do mundo, têm dificuldade em inspirar”. (LOWEN & LOWEN, 1985, p. 37).
     “A respiração profunda carrega o corpo e, literalmente, faz com que tenha vida”. O corpo, mostra sua vitalidade através dos olhos que brilham, da boa tonicidade muscular, da boa tonalidade da pele e da temperatura quente do corpo. “Tudo isso acontece quando uma pessoa respira profundamente”. (LOWEN 1984, p. 37).
     Exercícios respiratórios ajudam um pouco, mas não atingem as tensões musculares e os conflitos psicológicos que limitam a respiração profunda. O ar, em maior volume, produzido por esses exercícios não é totalmente absorvido pela corrente sanguínea e nem pelos tecidos. Apenas quando o corpo sente necessidade de mais oxigênio e faz um esforço espontâneo para respirar mais profundamente é que uma pessoa torna-se mais viva através da respiração. (LOWEN 1984). Liberando as tensões que desviaram o padrão respiratório do seu natural, podemos recuperar a respiração profunda. Alguns exercícios corporais relaxam as tensões musculares e estimulam a respiração, a psicoterapia auxilia e eliminar conflitos psicológicos e com isso aumentar a vivacidade. Procurar estar consciente da respiração permite perceber quando e como a inibe e assim fazer um esforço para voltar a respirar.


REFERÊNCIAS

LOWEN, Alexander. Prazer: uma abordagem criativa da vida. São Paulo: Summus, 1984.

LOWEN, Alexander; LOWEN, Leslie. Exercícios de bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante. São Paulo: Ágora, 1985.

Tudo sobre transpiração. Disponível em: http://www.antiperspirantsinfo.com/pt/all-about-sweat/what-makes-us-sweat.aspx. Acesso em: 20/09/2013.

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     Em uma postagem aqui do Blog de 2011 já havia abordado o tema respiração, nela contém mais detalhes sobre o mecanismo da respiração e seus aspectos psicológicos, fica a dica para uma leitura complementar! ;)


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