sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Ritmo e Prazer

     Me encanta o estudo da psicologia e do comportamento humano! Quem acompanha meu trabalho e minhas escritas sabe que sempre procuro fazer essa ligação com a Dança de Salão. Estou terminando de ler o livro Prazer: uma abordagem criativa da vida, do Alexander Lowen e tenho por meta escrever uma postagem abordando o tema do livro e como isso influencia nossa vida e nossa dança. Mas hoje, lendo uma parte do livro, o tema teve um apelo muito forte e significativo que me inspirou a dedicar uma postagem ao assunto "Os Ritmos do Movimento". Como estarmos fora de nosso ritmo nos distancia do prazer.


     Nosso organismo funciona ritmicamente gerando a mobilidade espontânea, o coração bate, os vasos sanguíneos se expendem e sem contraem, a respiração é contínua e a atividade celular nunca cessa. Essas atividades são involuntárias e dotadas de um ritmo que varia de acordo com a excitação do organismo e de suas partes.

     Na relação com o mundo externo, que abrange nossos contatos com as pessoas e ambientes as quais convivemos, nossas atividades são voluntárias, recebemos estímulos e respondemos com movimentos. A parte do corpo mais envolvida nessa atividade é a externa. Todo estímulo à superfície do corpo e por ele percebido é agradável ou doloroso. Segundo Lowen, não existe estímulos indiferentes pois o estímulo que não consegue criar sensação, não será percebido.

     Reagimos diferente à estímulos idênticos, o que gera prazer para uns pode representar dor para outros, o momento e a situação também influenciam, como quando se está concentrado em uma atividade, a pessoa pode recusar receber um carinho para não perder a concentração, mas um tapinha nas costas pode ser sinal de aprovação e gerar um estímulo positivo. Quando os estímulos harmonizam com os ritmos de nossos corpos encontramos prazer. A música que adoramos dançar, será incomoda quando estivermos tentando pensar, nossa comida predileta não terá o mesmo sabor se estivermos sem apetite e assim funciona em todos os outros sentidos.

     Segundo Lowen (1984, p. 201), a relação entre ritmo e prazer é claramente vista na função motora da parte externa do corpo, isto é, nos movimentos voluntários. "Qualquer atividade motora, realizada ritmicamente, é agradável. Se for realizada mecanicamente, sem sensação de ritmo, adquirirá qualidade dolorosa". Ele cita com o exemplo o andar, quando se anda ritmicamente, o andar é agradável, mas quando se tem pressa a atividade se transforma numa tarefa e perde o prazer. Podemos avaliar o prazer ou a falta dele, na vida das pessoas, pela forma como se movem. A pessoa que vive com prazer move-se com ritmo, sem esforço e graciosamente. Mas em nossa cultura nos deparamos com andares rápidos, compulsivos e bruscos, revelando a falta de alegria em suas vidas. Na dança de salão, principalmente quando realizada de improviso (não coreografada), até os mais leigos conseguem perceber se os dançarinos estão bailando com alegria e prazer ou se estão apenas preocupados com o desempenho.

     Se nos identificamos com nossos corpos e sua busca de prazer, nossos movimentos tornam-se rítmicos. A dança é um exemplo clássico do prazer em movimentos rítmicos. A música coloca sua vibração em contato com nossos corpos, que responde em padrões rítmicos dos passos de dança. Quando não estamos acompanhando o ritmo da música ou quando a música não se harmoniza com nossa vibração interna temos uma sensação desagradável.

     Os movimentos involuntários, diferente dos voluntários, exigem muita coordenação antes de se tornarem rítmicos, como as danças e os esportes, por exemplo. Para a aquisição destas e outras habilidades precisasse de dedicação e esforço. Conforme se adquire maior coordenação nos movimentos do corpo, estes se tornam mais rítmicos e geram maior prazer. Pessoas com mais coordenação, buscam ritmos mais complexos para excitar seus corpos. Quando se adquire qualidade rítmica, o prazer é grande, porém no momento que ser perde o ritmo a atividade passa a ser um doloroso combate. Por exemplo, uma pessoa depois de um tempo se dedicando à aulas e práticas de dança, atinge uma boa qualidade rítmica dos seus movimentos e sente muito prazer dançando, mas se por uma força qualquer precise passar um período afastada dessa atividade, quando retorna, esta, antes prazerosa, pode se tornar dolorosa, pois perdeu o ritmo e precisa recomeçar.

     Dividimos nossas atividades em coisas que fazemos seriamente, com um propósito ou ganho e coisas que fazemos por divertimento ou prazer. No aspecto sério da vida, a atividade rítmica espontânea parece não ter lugar. As pessoas andam mecanicamente, trabalham compulsivamente e falam monotonamente, sem ritmo e, algumas vezes, sem pé nem cabeça, procuram ter a eficiência fria de uma máquina. Devido à ausência de ritmo, perdem o prazer nessas atividades e depois tentam recuperar o ritmo nos esportes, dança, jogos e outras formas de recreação. Mas muitas vezes são frustradas pelo impulso compulsivo do ego em obter sucesso ou perfeição.

     A dança, que é uma atividade que proporciona tanto prazer, se realizada com a premissa no desempenho, sem seguirmos nosso próprio ritmo, logo passará a ser desgastante e desprazerosa. Não somos como máquinas que têm eficiência por estarem programadas a apenas um padrão de movimento rítmico. Somos dotados de um número quase ilimitado de padrões rítmicos que variam conforme disposições e desejos, que mudam conforme a excitação varia. Somos capazes de entrelaçar padrões rítmicos complexos para aumentar nosso prazer e alegria. Somos estruturados biologicamente para o prazer não para a ser eficiente. O homem é um ser criativo, não produtivo. (LOWEN, 1984)

     Temos que tomar cuidado para que nosso prazer não seja sacrificado em prol de nossa produtividade. Se no momento essa mudança ainda não pode ser alcançada em seu trabalho, fica a reflexão! Mas, principalmente, procure não adotar esse padrão rítmico em suas atividades de lazer. Essa semana li uma frase que casa com isso, "não existe caminho para a felicidade, a felicidade é caminho" (autor desconhecido).

     Encontre o seu ritmo e o prazer de viver!


REFERÊNCIAS

LOWEN, Alexander. Prazer: uma abordagem criativa da vida. São Paulo: Summus, 1984.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Primeira semana de aulas da Nova Grade

A primeira semana da Nova Grade de Aulas foi um sucesso!!! \o/ 




Você conhece Roda de Cassino? É uma Salsa dançada em roda onde um cantante, canta o passo e os dançarinos o executam simultaneamente, muitos dos passos acontecem trocando os pares, é muito divertido! Uma pequena amostra da Roda de Cassino que fizemos na primeira aula de Salsa, com movimentos iniciais e simples.



Ainda dá tempo! Venha fazer aula e dançar com a gente!!! Marque uma aula experimental grátis!

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Sambas para ouvir e dançar

Mês passado compartilhei grupos de Forró que gosto de ouvir e que uso nas aulas, como a galera curtiu as indicações vou fazer o mesmo com o Samba.
Vou começar pela safra mais nova, gosto muito do João Sabiá, bom de ouvir e também ótimas músicas para dançar, principalmente para os iniciantes. Rogê e Seu Jorge tem uma levada samba-rock muito boa! Casuarina tem uns samba muito gostosos. Paula Lima não pode ficar de fora da lista.

Duas gerações de grandes sambista João Nogueira e seu filho Diogo Nogueira e Martinho da Vila e sua filha Mart'nália.

Temos ótimos cantores e grupos de samba, mas também temos vários artistas que passeiam por diversos ritmos e que nos oferecem sambas muito bons, como Emilio Santiago, Djavan, Acione e Luiz Melodia, que já são artistas consagrados (o Emilio infelizmente não está mais conosco) e possuem bandas com uma qualidade musical fantástica, sendo um deleite ouvir e também aproveitar a rica musicalidade para dançar!

Nessa pegada temos mais duas gerações que muito enriqueceram e a nova geração ainda o faz por nossa música, Jair Rodrigues, Elis Regina e  Wilson Simonal e seus filhos Jair Oliveira e Luciana Mello, filhos de Jair, Pedro Mariano e Maria Rita, filhos de Elis, e Wilson Simoninha, filho de Simonal.

Confesso que samba é um ritmo que raramente ouço um álbum inteiro ou somente um cantor ou banda, normalmente o faço com uma playlist ou pasta com vários interpretes, alguns nomes são muito representativos no gênero e dificilmente ficam de fora como Jorge Aragão, Elza Soares, Leny Andrade, Brasil Show, Banda Black Rio, Copa 7, Bebeto e Zeca Pagodinho.

Outros artistas com sambas muito bons são Zé Ricado, Celso Fonseca, Joyce, Kleber Jorge, Roberta , Ana Costa, Leila Pinheiro, Bruno Maia, Marquinhos Satã e Alexandre Pires.

Muitos cantores de Mpb também tem bons sambas, gosto muito destes três, Chico Buarque, Ney Matogrosso e João Bosco. Dos percussores do ritmo cito Noel Rosa e Cartola.


Abençoada e rica é nossa cultura popular brasileira, temos muita gente boa e para todos os gosto! Minha intenção não é citar todos os cantores de samba, mas aqueles que gosto de ouvir e que fazem parte das minhas playlists, tem nomes muito conhecidos que não citei, uns por que não gosto de ouvir outros por que esqueci mesmo, mas com os citados já dá para encontrar muitas músicas boas para ouvir e dançar!


Dicas: 1 - Rildo Hora produziu o Casa De Samba, foram ao todo 4 álbuns com duetos de grandes sambistas e nomes da música brasileira interpretando clássicos do samba, foram grandes encontros e ótimas releituras de músicas já conhecidas! Um tempo depois o Zeca pagodinho lançou um projeto nos mesmos moldes mas ficou apenas em um albúm, o Cidade do Samba.

2 - Tem um canal do YouTube com muitos sambas bons, vale a pena conferir, chama-se Reduto do Samba. https://www.youtube.com/redutodosamba


Quem quiser contribuir com outros interpretes será muito bem-vindo! Quem quiser dicas de músicas de algum dos cantores ou bandas que citei pode pedir nos comentários. Bora ouvir e dançar muito samba!!!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 10 - Final

     CONCLUSÃO! Chegamos à última parte da publicação da Monografia. Estou muito feliz em compartilhar com vocês o conteúdo deste estudo.Consegui com as aulas, leituras, pesquisas, observações, terapia e conversas, encontrar respostas para os questionamentos e dificuldades citados no início do trabalho. O estudo da Psicologia Corporal me auxiliou a compreender que conflitos psicológicos limitam o fluxo de energia, levando o organismo a funcionar aquém do seu potencial, mas que a Dança de Salão pode funcionar como uma terapia e auxiliar o aluno à superar estas questões e com isso aumentar sua vitalidade e como consequência sua segurança, auto-estima, criatividade, espontaneidade e disposição à busca do prazer. Outro grande acréscimo que tive enquanto profissional, foi a forma de ver o aluno, uma diferença entre o professor e o terapeuta é que o professor trabalhar o conteúdo que ele quer transmitir, na maioria das vezes previamente preparado para a aula, e o terapeuta trabalha a necessidade do seu cliente naquele determinado momento. Acrescentei ao meu professor o terapeuta, trabalhando o conteúdo a ser transmitido, mas sempre olhando para o aluno ou a turma e sentindo qual a sua necessidade para aquele momento, o conteúdo deixou de ser o foco, este mudou para o ser-humano com quem estou trabalhando. Confesso que esta forma de trabalhar é mais difícil, exigi conhecimento e flexibilidade, mas o resultado é muito gratificante tanto para o aluno quanto para mim enquanto profissional e ser humano!

   
Vamos dançar, porque QUEM DANÇA É MAIS FELIZ!





QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.




14 CONCLUSÃO

     A proposta deste estudo entre psicologia e dança, foi compreender como o indivíduo reduz sua vitalidade e como isto se reflete no seu corpo e na sua dança. Para viver, dançar e enfrentar as pressões da vida diária é necessário ter energia. As tensões corporais, que são o lado físico dos conflitos psicológicos, limitam o fluxo de energia através do corpo, que prejudica a respiração, a mobilidade, as sensações, a espontaneidade e a auto-expressividade da pessoa, levando o organismo a funcionar aquém do seu potencial. Como o corpo é auto-regulável, produzirá apenas a energia necessária para o seu equilíbrio, e com a vitalidade limitada e reduzida, o ciclo tende a se manter até que sofra uma interferência. Neste ponto a dança de salão se mostra muito útil, além de ser uma atividade que proporciona prazer, que é o objetivo primário da vida, o desenvolvimento de uma atividade física aumenta o metabolismo e por conseqüência a produção de energia; para que o dançarino consiga aumentar sua resistência física precisará melhorar sua respiração, melhorando o fluxo respiratório irá obter mais oxigênio, que irá aumentar o metabolismo e produzir mais energia. Com a dança o indivíduo melhora sua coordenação motora e aumenta sua flexibilidade; com a descontração de tensões e o aumento da mobilidade, o corpo passa a sentir mais e com isso a responder espontânea e criativamente, e sendo a dança uma atividade auto-expressiva, o ciclo que resultará no aumento da energia e por consequência da vitalidade da pessoa, estará completo. Esta vitalidade estará disponível ao indivíduo não somente para o uso na prática da dança, mas também, para a sua vida diária. 
     Considerando a terapia uma forma de reaprender e reprogramar a mente e o corpo, podemos ver a dança de salão como uma forma de terapia, onde o praticante reaprende posturas, comportamentos, ações e movimentos, e recebe estímulo à criatividade, espontaneidade e auto-expressão, aliado ao fato de ser uma atividade que proporciona prazer. É essencial ressaltar que a dança de salão, como uma forma de terapia, não substitui o acompanhamento psicológico em casos de problemas emocionais mais graves, mas pode ser útil como complemento no tratamento. A terapia na forma analítica ou com outras abordagens corporais, como massagens, por exemplo, também são de grande auxilio ao dançarino para compreender e a superar dificuldades.
    Abrindo o leque de pesquisa existem diversos outros aspectos onde a psicologia auxilia a compreender os comportamentos e as dificuldades dos dançarinos. Um aspecto que vale ressaltar, e que é a principal diferença entre a dança de salão e diversas outras danças, é o fato desta ser praticada por casais e na forma de improviso, a relação tão próxima de pessoas de sexos opostos, com a reação direta como resposta ao estímulo do parceiro, reflete diretamente no comportamento do dançarino, e só este aspecto seria conteúdo para o desenvolvimento de todo um estudo. Fica aqui a proposta, para que sejam desenvolvidos mais pesquisas e estudos na área de dança e que possamos ter mais referências para consultar e aplicar. 
     Com este estudo podemos concluir que, de acordo com a visão da bioenergética, a dança de salão pode contribuir significativamente na ampliação da vitalidade do indivíduo, aumentando sua disposição para encarar suas próprias tensões, assim como as tensões da vida diária, além de ampliar sua disposição para a busca de prazer. A qualidade dos resultados que se pode alcançar com a dança de salão depende muito da escolha do profissional, infelizmente é uma modalidade onde não se exige uma formação específica para atuar, com isso encontramos muitos profissionais despreparados e que não possuem consciência do quanto seu trabalho está influenciando no comportamento e no corpo de seus alunos ou dançarinos e que muitas vezes podem estar prejudicando ao invés de beneficiar. A prática da dança de salão além de ser uma atividade que auxilia no alívio das tensões diárias, pode ser fonte para o aumento da vitalidade e melhora do potencial para enfrentar as dificuldades e para a busca do prazer.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 9

     Último capítulo da Monografia, penúltima parte das postagens sobre ela... está terminando... A mono fecha com o capítulo Auto-expressividade, tema intrínseco à dança. O que limita nossa expressão na dança, movimentos aprendidos x espontâneos, ego x self, poder x prazer, questões que refletem diretamente na dança de cada um, independente se é um dançarino de baile que nunca fez aula, um aluno ou um profissional que vive da arte.


     Sabe o que diferencia um dançarino que encanta com sua arte, independente do nivel, de outro extremamente tecnico e que executa movimentos dificeis mas que não consegue deslumbrar o público? A forma como ele se expressa!

    Boa leitura!!!


QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.



13 AUTO-EXPRESSIVIDADE

     A auto-expressividade descreve as atividade livres, naturais e espontâneas do corpo. Toda atividade do corpo contribui para sua auto-expressão, desde as mais simples como andar e comer, até as mais sofisticadas como cantar e dançar. O indivíduo se expressa em qualquer ação que executa ou movimento que seu corpo realiza. Mas não é só através de ações e movimentos que nos expressamos, a forma e o contorno do corpo, sua cor, cabelo, olhos e sons identificam o indivíduo. Para Lowen & Lowen (1985, p. 57), a maior e mais importante parte de nossa auto-expressão é inconsciente. “Um movimento gracioso, um brilho nos olhos de alguém, o tom de voz, uma vivacidade e vibrações gerais, expressão mais o que somos, do que palavras e ações”. Mas segundo eles, estas qualidades não podem ser cultivadas deliberadamente pelas pessoas, “são manifestações de saúde física e emocional”.
     Lowen (1982, p. 229) atribui a qualidade essencial da expressividade à espontaneidade e não a consciência. “Quando comparamos comportamentos espontâneos com comportamentos aprendidos, fica clara a relação dos primeiros com a auto-expressividade”. Considerando o comportamento aprendido uma manifestação do ego e a espontaneidade do self (si próprio), a maioria dos nossos atos contém tanto um elemento aprendido quanto um espontâneo. Quando o controle (ego) e a espontaneidade estão em harmonia a ponto de um suplementar o outro ao invés de tolhê-lo, garantem aos nossos comportamentos maior objetividade e um nível de prazer o mais elevado possível. (LOWEN, 1982, p. 231). Usando a dança como exemplo, a simples repetição dos movimentos aprendidos na aula, por mais que se aplique a mais apurada técnica, não faz com que a dança seja encantadora para quem compartilha ou quem assiste, mas se esta for acrescida de espontaneidade, irá expressar as sensações que a dança, a música e o contato como o par estão lhe proporcionando e com isso a dança não terá apenas movimentos mas expressará vida e proporcionará prazer.
     “O prazer é o elemento chave para a auto-expressividade”. (LOWEN, 1982, p. 230). Sentimos prazer enquanto nos expressamos, essa sensação pode ser moderada ou até extasiante (no sexo). O prazer de se auto-expressar não depende de resposta do meio ambiente, podemos, por exemplo, sentir prazer dançando, isso independe das reações dos outros, porém nosso prazer pode aumentar ou diminuir pela reação dos outros, como se somos elogiados ou criticados pela nossa dança.
     Cantar, assim como dançar, são ações naturalmente expressivas, mas que podem perder suas qualidades quando se transformam numa exibição, ou seja, quando se está faltando o impulso espontâneo para o ato. Pode-se até sentir uma satisfação do ego, mas quando se diminui a espontaneidade o prazer se reduz proporcionalmente. “O desafio do artista é como manter o alto nível de execução sem perder o sentimento de espontaneidade de suas ações, que confere vida e prazer ao que estiver fazendo”. (LOWEN, 1982, p. 231).
     Uma pessoa bloqueada na sua habilidade de expressar sensações e sentimentos, como incapazes de chorar, que não podem esbravejar, que têm medo de mostrar medo, que não podem pedir ajuda, que não ousam protestar; está amortecendo seu corpo e reduzindo sua vitalidade. (LOWEN & LOWEN, 1985). Quando a auto-expressividade está bloqueada ou limitada, a pessoa poderá compensá-la projetando uma imagem do ego. Para Lowen (1982), o modo mais comum de fazer isso é através do uso do poder, mas segundo ele, isto é somente reflexo do senso de inferioridade a nível de si mesmo e de sua expressividade e, adverte que o poder cria apenas uma imagem maior, não um self maior. O autor cita como outra forma de compensação, a pessoa que precisa possuir uma casa grande, um carro potente ou muitas posses para superar uma sensação interna de pequenez, e ressalta que este poderá ser rico, já que esta é sua ambição, mas continua sendo pobre em sua vida interior (espírito) e em sua maneira de automanifestação. Estas observações nos auxiliam a compreender porque muitos artistas e atletas acabam não dando importância aos bens materiais, pois conseguem expressar-se grandiosamente em seus trabalhos e obter, com isso, um prazer imenso, não havendo carência de satisfações egoicas de poder ou posses.
     Lowen (1982, p. 232) apresentou uma linha direta conectando a energia à auto-expressividade:

Energia – mobilidade – sentimento – espontaneidade – auto-expressividade

     A mobilidade do corpo está relacionada ao seu nível de energia. Para mover-se o corpo precisa de energia, se o nível energético está baixo a mobilidade decresce. Com a mobilidade reduzida o fluxo de sentimentos fica limitado, reduzindo ou ainda anulando a espontaneidade e a auto-expressividade. A sequência também opera no sentido inverso, se a auto-expressividade de uma pessoa estiver bloqueada, sua espontaneidade estará reduzida, o que afetará negativamente a afetividade, que por sua vez diminui a mobilidade do corpo e deprime o nível energético.
     É fácil de visualizar essa linha num dançarino, se seu nível energético está baixo, sua mobilidade vai estar reduzida e irá comprometer toda a sua dança. No inverso, se ele for bloqueado na sua auto-expressividade, reduzirá sua espontaneidade, perderá a afetividade, diminuirá a mobilidade e a produção energética será menor para manter o equilíbrio do corpo.


REFERÊNCIAS
LOWEN, Alexander. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982.
LOWEN, Alexander; LOWEN, Leslie. Exercícios de bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante. São Paulo: Ágora, 1985.

Forrós para ouvir

Vários alunos me pedem indicação de Forrós para ouvirem, então decidi fazer um post para auxiliar nessa busca. O único critério que vou usar é o meu gosto, o que mais ouço ou utilizo nas aulas. Então vamos lá!



Na minha última pasta de forró estão dois ótimos Trios, TRIO MACAÍBA e TRIO BASTIÃO, além de COISA DE ZÉ que gosto muito! OS 4 MENSAGEIROS fazem parte da minha história com o forró, a coreografia Trio Forrozeiro foi com música deles, além algumas apresentações de improviso. 

Esse ano tivemos DONA ZAIRA no Superstars e no ano passado BICHO DE PÉ, dois grupos muito bons e que tiveram bom destaque no programa!

Vamos aí, grupos das minhas playlists, GUENTAÊ, NÓ DO FORRÓ, RASTAPÉ, TRIO DONA ZEFA, TRIO HAVENGAR, TRIO SINHÁ FLOR, TRIO VIRGULINO, CAIANA, FORROÇACANA, ESTAKA ZERO e FORRÓ NA CONTRAMÃO.

Tem dois grupos que gosto e são muito ricos musicalmente o FORRÓ LUNAR de Brasília e o GUAYPEKA de Floripa!

ALCEU VALENÇA e DOMINGUINHO não podem ficar de fora! Tem um álbum do Dominguinhos e ELBA RAMALHO fantástico!

Tem muito mais coisa! Citei alguns, principalmente da geração mais nova do forró, mas felizmente temos muita coisa para ouvir em se tratando de forró!

Tem um site chamado Forró em Vinil, onde ó possível baixar muitos forrós, álbuns inteiros estão disponíveis. http://www.forroemvinil.com/

Quem quiser ouvir forró online recomendo a Rádio Forroots, do meu amigo Tio Eli Moura. http://www.forroots.com.br/

Para quem quer conhecer um pouco a história do forró, recentemente descobri um blog bem bacana, o Por amor ao forróhttp://forropedeserradf.blogspot.com.br/

O que mais você gosta de ouvir que não foi citado aqui? Compartilha conosco nos comentários! ;)

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 8

     Olá pessoal! Já estamos chegando ao fim da Monografia. Este capítulo fala sobre Mobilidade, tópico super pertinente à dança. A qualidade dos  nossos movimentos reflete diretamente na nossa expressão, espontaneidade, criatividade, prazer e dança!
     Boa leitura!!!


QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.



12 MOBILIDADE

     A mobilidade natural do corpo se refere aos movimentos espontâneos ou involuntários sobre os quais são sobrepostos os movimentos conscientes maiores. Para Lowen (1984, p. 42), a mobilidade de uma pessoa se reflete na vitalidade de sua expressão facial, na qualidade de seus gestos e na extensão de suas reações emocionais. “A mobilidade corporal é a base de toda espontaneidade, que por sua vez é ingrediente essencial tanto do prazer como da criatividade”. Todo espasmo muscular crônico é uma limitação da liberdade do movimento e expressão do indivíduo. É portanto uma restrição da sua capacidade de prazer.
     Um corpo vivo está em constante movimento, só na morte ele está totalmente parado. Um corpo sadio está em constante estado de vibração, quer desperto ou dormindo, ondas pulsatórias se desenvolvem e se espalham pelo corpo como no batimento cardíaco que pulsa através das artérias e nos movimentos peristálticos do intestino, por exemplo. Lowen (1984, p. 42) relata que as ondas respiratórias associadas com os movimentos da respiração são as ondas pulsantes básicas do corpo e que quando essas ondas passam pelo corpo, ativam todo sistema muscular. A respiração fornece a energia para os movimentos.

A limitação da respiração impõe uma limitação sobre toda a mobilidade do corpo. (...) Sua livre movimentação garante a espontaneidade dos sentimentos e sua expressão. Isso significa que enquanto a respiração for plena e completa, não há bloqueios para o fluxo de sentimentos. A respiração leva ao movimento que é o veículo para a expressão do sentimento. (LOWEN 1984, p.42).

     Uma carga energética na musculatura produz a vibração, como uma corrente que passa por um fio elétrico. A falta de vibração é uma indicação de que a corrente de excitação ou carga está ausente ou muito reduzida. A qualidade de vibração de um corpo diz em que condições ele está. Quando há saúde, as vibrações do corpo são relativamente leves e constantes, como o som do motor de um carro em funcionamento. Quando o motor do carro é desligado, as vibrações cessam. “Da mesma forma, podemos dizer que indivíduos cujos corpos não vibram estão mortos emocionalmente.” (LOWEN, 1984, p. 42). Por outro lado, um corpo que treme violentamente é como um carro com o motor desregulado. Vibrações abruptas num corpo são sinal de que a excitação ou carga não está fluindo livremente, que está passando através de músculos espáticos ou cronicamente tensos. “Quando as tensões são aliviadas ou o músculo relaxa, as vibrações tornam-se mais sutis, dificilmente perceptíveis na superfície e são experienciadas como um delicioso ronronar.” É melhor tremer a não vibrar de jeito nenhum. Existem condições onde o corpo treme devido a uma carga extremamente intensa, como raiva, medo e agitos de soluço, momentos de plena vitalidade. (LOWEN & LOWEN, 1985, p. 16).
     Lowen (1984, p. 43) adere os “problemas de regulagem” no corpo humano às tensões musculares crônicas que “desenvolvem-se como inibições de impulsos e não podem ser eliminadas definitivamente a não ser pela liberação do movimento inibido.” Todo músculo cronicamente tenso é um músculo contraído que precisa ser estirado para ativar seu potencial de movimento. O estiramento do músculo, um tecido elástico, faz com que ele vibre levemente ou até num forte tremor, dependendo do grau de tensão e extensão. Qualquer que sejam suas qualidades, as vibrações servem para afrouxar a contratilidade crônica dos músculos.
     Quando o fluxo de uma excitação, como prazer, angústia ou raiva, por exemplo, é inibido, a musculatura é contraída, fazendo com que ela enrijeça e gere a hipertonia. Quando o impulso é recuado para o inconsciente e deixamos de fazer contato com ele, a área do corpo que deveria estar envolvida na expressão é amortecida, perdendo os sentimentos e sensações normais, ocasionando a hipotonia. Para entender as alterações do tônus muscular, é importante considerar os fluxos de energia no organismo, dado que a hipotonia muscular está intimamente ligada a condições de baixa carga na região afetada. A falta de tônus, que é o gerador de limite, permite que a energia vaze, Na região hipertônica há grande concentração de energia, porém preza. (REGO, 2008).
     Uma boa mobilidade faz-se necessário para ser tornar um bom dançarino. As tensões musculares crônicas limitam a liberdade do movimento e por consequência a expressão do dançarino. Quanto mais rígido o corpo, mais limitados e mecânicos são os movimentos e, menos graciosidade e sentimento possuem, o que faz com que a dança seja sem expressão e por consequência sem vitalidade. O cavalheiro com essa característica tende a apresentar conduções mais fortes, muitas vezes sendo brutas e desconfortáveis, e as damas, por sua vez, com a musculatura dos braços e ombros contraídos, à limitar a condução dos movimentos e a serem mais pesadas para conduzir. Quanto mais amortecido ou mole o corpo menos energia ele possui, mais lentos e descoordenados são seus movimentos, menores seus reflexos, e mais baixa sua resistência. O dançarino com essa característica possui pouca identificação com o corpo e seus movimentos aparentam um grande esforço, o cavalheiro apresenta dificuldades para que sua condução seja compreendida e a dama não responde a conduções ou a faz de forma lenta e atrasada. A dança é uma ótima forma de tonificar a hipotonia, fazendo com que o corpo se carregue com mais energia e que adquira mais firmeza e resistência. Em compensação, se mal trabalhada pode aumentar a rigidez em hipertonias e contrair musculaturas normais.


REFERÊNCIAS
REGO, Ricardo Amaral. A vida é dura para quem é mole: Considerações sobre aspectos psicológicos da hipotonia muscular. Monografia (Formação em Análise Bioenergética) – Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo, São Paulo, 2008.
LOWEN, Alexander. Prazer: uma abordagem criativa da vida. São Paulo: Summus, 1984.
LOWEN, Alexander; LOWEN, Leslie. Exercícios de bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante. São Paulo: Ágora, 1985.


     Um conteúdo a mais podem ser encontrado numa postagem que escrevi aqui do Blog em 2012, O Tônus Muscular na Dança de Salão, inclusive ela contribuiu para este capítulo da Monografia.


quinta-feira, 25 de junho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 7

     Você tem noção do quanto a má respiração interfere no desempenho do dançarino? Respirar mal gera maior tensão, mais ansiedade, produz mais suor, reduz a vitalidade e faz cansar precocemente. Respiração é o capítulo desta postagem da Monografia, um tema a  qual damos pouca atenção mas que define como vivemos.

     Antes de você continuar lendo, proponho um exercício, uma simples observação sobre sua respiração, pare alguns segundos e observe como está sua respiração. Não mude ela, apenas observe. Quais partes do seu corpo participam do movimento de respiração? Garganta, peito, abdomem, pelve? A respiração é curta ou mais profunda? Sente tensão em alguma parte do seu corpo? Durante a leitura observe se ela muda, se gera alguma tensão. Procure não julgar ou inibir, apenas observe! ;)

     Recomendo a leitura ou a releitura do capítulo anterior, o Grounding, para melhor compreensão deste. Boa leitura!!!



QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.



11 RESPIRAÇÃO


     O grounding está intimamente relacionado à respiração, quanto mais você se deixa interiormente acontecer, mais profunda é sua respiração. Para viver é preciso respirar e quanto melhor for a respiração, mais vivo irá se sentir. Através da respiração conseguimos o oxigênio para manter aceso o fogo do nosso metabolismo, e isto nos assegura a energia que precisamos. Mais oxigênio cria um fogo mais quente e produz mais energia (LOWEN & LOWEN, 1985). Uma respiração inadequada, de acordo com Lowen (1984, p. 31), reduz a vitalidade do organismo, a combustão metabólica não queima bem na ausência de oxigênio suficiente, “em vez de brilhar com a vida, a pessoa com má respiração é fria, inerte e sem vida. Não tem calor nem energia. Sua circulação é afetada diretamente pela falta de oxigênio.”
    A maioria das pessoas respira mal. Lowen & Lowen (1985) destacam o fato que os adultos tendem a apresentar padrões desorganizados de respiração, devido a tensões musculares crônicas, que distorcem e limitam sua respiração. Essas tensões são o resultado de conflitos emocionais que se desenvolveram ao longo do seu crescimento. 
  Além da respiração superficial, a maioria das pessoas têm uma forte tendência a prender a respiração em qualquer situação de estresse, mesmo em situações simples como dirigir, digitar, aguardar para serem atendidas ou dançarem. O resultado disso é o aumento da tensão. De acordo com Lowen (1984), a respiração inadequada provoca ansiedade, irritabilidade e tensão. Toda dificuldade em respirar causa ansiedade, se a dificuldade for grave pode levar ao pânico ou ao terror.
   Infelizmente é mais comum do que imaginamos a deficiência respiratória nos dançarinos, além daquelas originadas pelas tensões crônicas ao longo do corpo, que limitam o fluxo energético e o respiratório, deparamos com situações de estresse na dança, e não estamos falando de dançarinos profissionais, mas de pessoas comuns, que buscam a dança de salão como hobby, que quando se vêem com dificuldades de aprendizado, de execução, de compreensão, pouco a vontade com o par ou com o ambiente, quando se sentem avaliados, expostos ou em diversas outras situações, tendem a limitar ou a prender a respiração, o resultado é o aumento da tensão. Se levarmos em conta este ciclo e considerarmos o fator falta de grounding como insegurança e que este leva à sensação de estresse, podemos chegar a seguinte equação:

DANÇA: (-) grounding - (+) estresse – (-) respiração – (+) tensão
= cansaço, exaustão, fadiga, e suor.

(-) grounding = menor segurança
(-) respiração = menor produção de energia
(+) tensão = maior consumo de energia
(+) suor = esforço físico + tensão + estresse

     Quanto menor a segurança do dançarino, mais ele encontra-se suscetível à sentir-se estressado durante a dança, pegamos, por exemplo, um dançarino com um nível mais básico de dança, que vai dançar uma música rápida com um parceiro que não está habituado, temos pelo menos, dois fatores gerando estresse, a música rápida e o parceiro desentrosado. Como o corpo tende a prender a respiração numa situação de estresse, isso vai gerar tensões no corpo, o pouco oxigênio inspirado vai diminuir a produção de energia, e as tensões musculares vão consumir mais energia, resultado: temos um corpo consumindo mais energia pela atividade em exercício (neste caso a dança) e também para manter as tensões geradas pelo estresse, e que produz menos energia por prender a respiração e reduzir o oxigênio do metabolismo, com isso o organismo tende a ficar cansado ou ainda exausto conforme o consumo de energia. Além disso temos a produção do suor, que quando em excesso causa desconforto no dançarino e no parceiro. Suar ou transpirar serve para manter a temperatura do corpo e evitar o superaquecimento em ambientes quentes ou durante exercícios ou esforço físico. A transpiração também ocorre quando sentimos fortes emoções ou estresse, independente da temperatura. Este tipo de transpiração é normalmente conhecido como “suor frio”. “Emoções como medo, ansiedade ou estresse ativam a liberação do hormônio adrenalina e é essa descarga de adrenalina que desencadeia uma série de eventos no organismo, um dos quais é a transpiração.” (Tudo sobre a Transpiração, 2013). No exemplo acima, além do esforço físico realizado pela dança que aumenta a temperatura do corpo, e faz o corpo suar, temos o agravante da tensão e do estresse que a situação lhe proporciona aumentando a transpiração do dançarino.
     Lowen (1984, p. 33) atribui a dificuldade para respirar profundamente e com facilidade, ao medo de sentir, pois a respiração cria sensações. As pessoas “têm medo de sentir sua tristeza, sua raiva e suas apreensões”. Quando eram crianças seguravam a respiração para não chorar, puxavam o ombro para trás, tensionando o peito para conter a raiva e apertavam a garganta para evitar um grito. “O efeito de cada uma dessas manobras é a limitação e a redução da respiração. Da mesma maneira a contenção de qualquer sentimento resulta numa inibição da respiração”. Quando adultos, continuam a inibir a respiração para manter esses sentimentos reprimidos, dessa forma, a incapacidade para respirar normalmente torna-se o principal obstáculo para se recuperar a saúde emocional.
     A respiração saudável é uma ação do corpo todo, todos os músculos do corpo são envolvidos, em algum grau. A frente do corpo se move como um todo num movimento ondulante. Este tipo de respiração pode ser observado em crianças pequenas e animais, cujas emoções não foram bloqueadas. Toda tensão, em qualquer parte do corpo, perturba o padrão normal. A expiração, contudo, é um processo passivo, melhor exemplificado por um suspiro.
    Podemos pensar em movimentos respiratórios como ondas. A onda inspiratória começa fundo na pelve e flui para cima, até a boca; a onda expiratória percorre o caminho inverso. Lowen (1984, p. 34) descreveu dois distúrbios típicos da respiração, no primeiro, a respiração praticamente só acontece no peito, com uma relativa exclusão do diafragma e os músculos abdominais encontram-se fortemente contraídos. Essas tensões eliminam as sensações da parte inferior do corpo. O peito esvazia-se e, geralmente, torna-se estreito e apertado. A inspiração é limitada e, como resultado, verificam-se uma oxigenação e um metabolismo baixos. No segundo tipo, o peito vê-se imobilizado apesar do diafragma e do abdômen superior estarem relativamente livres. O peito geralmente mantém-se numa posição dilatada e os pulmões contêm uma grande quantidade de reserva de ar. Sentem dificuldade em esvaziar completamente os pulmões. A expiração é um procedimento passivo, equivale a “deixar acontecer”. A expiração completa é como ceder, aceitar a supremacia do corpo. Deixar que o ar saia é vivido por eles como uma perda de controle, o que eles temem. A respiração diafragmática é mais eficiente do que a torácica, pois fornece uma quantidade máxima de ar para um mínimo de esforço, contudo, a menos que tanto o peito como o abdômen estejam agindo durante a respiração, a unidade do corpo é quebrada e as reações emocionais ficam limitadas.
    A expiração induz ao relaxamento de todo o corpo, libera o ar retido nos pulmões e, neste processo, libera toda e qualquer outra retenção. “As pessoas que têm medo de se soltar apresentam dificuldades para uma expiração. (...) Por outro lado, as pessoas que têm medo de ir ativamente ao encontro do mundo, têm dificuldade em inspirar”. (LOWEN & LOWEN, 1985, p. 37).
     “A respiração profunda carrega o corpo e, literalmente, faz com que tenha vida”. O corpo, mostra sua vitalidade através dos olhos que brilham, da boa tonicidade muscular, da boa tonalidade da pele e da temperatura quente do corpo. “Tudo isso acontece quando uma pessoa respira profundamente”. (LOWEN 1984, p. 37).
     Exercícios respiratórios ajudam um pouco, mas não atingem as tensões musculares e os conflitos psicológicos que limitam a respiração profunda. O ar, em maior volume, produzido por esses exercícios não é totalmente absorvido pela corrente sanguínea e nem pelos tecidos. Apenas quando o corpo sente necessidade de mais oxigênio e faz um esforço espontâneo para respirar mais profundamente é que uma pessoa torna-se mais viva através da respiração. (LOWEN 1984). Liberando as tensões que desviaram o padrão respiratório do seu natural, podemos recuperar a respiração profunda. Alguns exercícios corporais relaxam as tensões musculares e estimulam a respiração, a psicoterapia auxilia e eliminar conflitos psicológicos e com isso aumentar a vivacidade. Procurar estar consciente da respiração permite perceber quando e como a inibe e assim fazer um esforço para voltar a respirar.


REFERÊNCIAS

LOWEN, Alexander. Prazer: uma abordagem criativa da vida. São Paulo: Summus, 1984.

LOWEN, Alexander; LOWEN, Leslie. Exercícios de bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante. São Paulo: Ágora, 1985.

Tudo sobre transpiração. Disponível em: http://www.antiperspirantsinfo.com/pt/all-about-sweat/what-makes-us-sweat.aspx. Acesso em: 20/09/2013.

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     Em uma postagem aqui do Blog de 2011 já havia abordado o tema respiração, nela contém mais detalhes sobre o mecanismo da respiração e seus aspectos psicológicos, fica a dica para uma leitura complementar! ;)


sexta-feira, 19 de junho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 6

     Olá pessoal, já estamos nos últimos capítulos da Monografia, e por sinal os mais interessantes! Enquanto os anteriores nos traziam entendimento sobre o porque de nossos comportamentos na vida e na dança, este os seguintes nos mostrarão caminhos para mudanças e vão justificar o título do trabalho 'Aumentando a Vitalidade por meio da Bioenergética e da Dança de Salão'. 
     Este capítulo fala sobre ter base, estar em contato. Quem já fez aula comigo sabe o quanto cobro do aluno estar com os pés no chão e com os joelhos levemente flexionados, com essa leitura poderão compreender melhor a importância dessa postura e os benefícios que ela proporciona.

     Boa leitura! E fiquem a vontade para compartilhar e comentar!


QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.



10 GROUNDING

     Na Bioenergética, grounding é o contato da pessoa com o chão, é estar com os pés no chão e não suspensa no ar. Segundo Lowen (1982, p. 169), “a pessoa que não está em contato com o solo também não está em contato com a realidade, na mesma proporção”. A pessoa firmemente plantada na terra está identificada com seu corpo, ciente da sua sexualidade e orientada para o prazer, qualidades que faltam à pessoa que está ‘suspensa no ar’, ou na sua cabeça.
     Na cultura em que vivemos, temos dado muita ênfase à parte superior do corpo, através do incentivo ao desenvolvimento do intelecto, de habilidades manuais e verbais, com isso nos afastamos da metade inferior, que é de natureza muito mais animal em suas funções (locomoção, defecação e sexualidade). Funções mais instintivas e menos submetidas ao controlo consciente. Lowen faz uma observação que pode ser diretamente ligada a dança: 

(...) é em nossa natureza animal que residem as qualidades de ritmo e graça. Qualquer movimento que flui livremente da parte inferior do corpo tem tais qualidades. Quando nos puxamos para cima e para longe da metade inferior do corpo, perdemos muito do nosso ritmo e graça naturais. (LOWEN & LOWEN 1985, p.25)

     Aqui encontramos o primeiro aspecto onde o grounding interfere diretamente na dança, a qualidade dos movimentos. O grau de sensação de contato com o chão varia largamente de pessoa para pessoa. Quanto maior o grounding do dançarino, mais rítmicos e graciosos são seus movimentos, possui maior força e precisão e a dança é executada sem esforço e sabiamente. Quanto menor o grounding, mais o dançarino tende a compensar tecnicamente, porém, nesta condições, os movimentos deixam de fluir livremente e passam a ser mecânicos, e por mais que sejam perfeitamente executados, a dança perde a vivacidade, ou usando os termos do Lowen, os movimentos perdem a “graça natural”.
     O outro aspecto a qual o grounding interfere na dança, está relacionado a segurança. Lowen & Lowen (1985, p.23) dizem que “grounding implica em conseguir que a pessoa ‘deixe acontecer’, fazendo seu centro de gravidade recair mais embaixo; implica em fazê-la sentir-se mais perto da terra. O resultado imediato é que aumenta seu senso de segurança.” A pessoa altamente carregada ou excitada tende a ir para cima, voar. Nestas condições, apesar da sensação de excitação, ou elação, há sempre um elemento de ansiedade e perigo, o perigo de cair. A direção descendente, de acordo com Lowen & Lowen (1985), é o caminho para o prazer, da liberação ou descarga, o estado inconsciente de se manter suspenso gera medo de cair, medo de falhar e, portanto, medo de deixar acontecer e da entrega aos próprios sentimentos. Este estado de insegurança reflete diretamente no comportamento do dançarino, prejudicando a postura, o equilíbrio, a manutenção do ritmo, e a comunicação entre os pares, a ansiedade induz o cavalheiro a conduzir o próximo passo precipitadamente e a dama a tentar prever e se antecipar ao próximo movimento. O medo de falhar faz com que o dançarino se mantenha em uma zona de conforto, executando apenas movimentos que sente segurança e dançando com pares conhecidos ou que estejam no mesmo nível de dança ou inferior. O medo de deixar acontecer e da entrega aos sentimentos impede que o dançarino possa desfrutar de todo o prazer que a dança pode proporcionar, Lowen & Lowen (1985, p.24) dizem que “as pessoas que têm medo desse deixar acontecer são bloqueadas em sua habilidade de entrega total à descarga e não conseguem experimentar a total satisfação”.
     A dança de salão, praticada em bailes, é executada totalmente de improviso, utiliza-se movimentos e técnicas aprendidos e treinados durante as aulas, mas quando executados num baile sofrem influencia de vários fatores, como o par com quem se está dançando, se é do mesmo nível de dança, se a condução do cavalheiro é clara e precisa, se a resposta da dama é precisa, se a dama propõe movimentos; o local, se possui costumes próprios como ronda do salão ou normas como não executar passos aéreos; as condições do salão, como piso escorregadio ou prendendo, salão cheio, pessoas paradas no meio da pista, iluminação; a leitura que os dançarinos fazem da música (musicalidade); o estado emocional dos dançarinos naquele dia, naquela dança; entre outros fatores, tudo isso influencia na dança. Quanto menor o grounding, menor é o senso de segurança do dançarino, e maiores são as influencias que o meio externo exerce sobre sua dança gerando insegurança e/ou ansiedade.
    Lowen destaca a importância do posicionamento dos joelhos para aumentar e permanecer em grounding, eles devem ser mantidos discretamente flexionados o tempo todo. Quando os joelhos estão trancados enquanto se está de pé, toda a parte inferior do corpo, dos quadris para baixo, torna-se uma estrutura rígida que funciona então como suporte mecânico de locomoção, impedindo o indivíduo de fluir para a parte inferior do corpo e identificar-se com ela. (LOWEN & LOWEN, 1985). Quando observamos uma pessoa “dura” dançando, pode-se notar que esta utiliza muito pouco ou quase nada das articulações em seus movimentos, principalmente joelhos, tornozelos e quadril, o seu corpo se movimenta como um bloco, de forma rígida. Os joelhos são responsáveis por absorver os choques do corpo, funcionam como amortecedores. Quando o corpo sofre uma pressão, de caráter física ou psicológica, os joelhos se flexionam e permitem que a força seja transmitida através do corpo até o chão. Se os joelhos estão trancados, a força fica congestionada na região lombar das costas, produzindo uma condição de pressão (stress) que resultará num distúrbio de coluna lombar (LOWEN & LOWEN, 1985).
     Bioenergeticamente falando, grounding serve para o sistema energético do organismo da mesma forma que para um circuito elétrico de alta tensão e é constituído de uma válvula de segurança para descarga de excessos de excitação. Num sistema elétrico, o acúmulo súbito de carga pode queimar uma parte da instalação ou provocar um incêndio. “Na personalidade humana, o acúmulo de energia também poderá ser perigoso caso a pessoa não tenha contato com o chão. A pessoa pode fragmentar-se, ficar histérica, sentir ansiedade ou entrar em depressão.” (LOWEN, 1982, p. 171).
     Pernas firmes, com energia e bem plantadas no chão implicam uma percepção de si mesmo e da realidade externa que resulta no sentimento de segurança. Quanto mais a pessoa sente seu contato com o chão, mais consegue pôr-se em seu lugar, mais carga consegue suportar e mais sentimentos consegue manipular. (LOWEN, 1982). Se o indivíduo estiver bem grounded, seu corpo estará naturalmente equilibrado, ereto e firme. Sua energia fluirá naturalmente. Poderá inclusive notar que seus olhos estão vendo mais claramente e sua visão melhorou. (LOWEN & LOWEN, 1985).


REFERÊNCIAS
LOWEN, Alexander. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982.
LOWEN, Alexander; LOWEN, Leslie. Exercícios de bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante. São Paulo: Ágora, 1985.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 5

     Olá pessoal! “Não há palavras mais claras do que a linguagem da expressão corporal, uma vez que se tenha aprendido a lê-la” (Lowen).

     Boa leitura!!!


QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.



9 LINGUAGEM DE EXPRESSÃO CORPORAL

     Nosso modo de viver é a consequência do caráter ou personalidade que formamos, com defesas psíquicas e somáticas estruturadas, levando a ações, comportamentos e reações que passam a ser padronizados. Esta personalidade passa a ser expressa em cada ação ou atitude, tornando-se nossa linguagem de expressão corporal. Lowen (1977, p.101) afirma que “não há palavras mais claras do que a linguagem da expressão corporal, uma vez que se tenha aprendido a lê-la”. Em seu livro O Corpo em Terapia: a abordagem bioenergética, Lowen apresenta aspectos físicos com correlatos psíquicos e comportamentais, que contribuem muito para a leitura corporal e a compreensão do indivíduo na vida e na dança. Abaixo seguem algumas associações apresentadas no livro:
      Começando pelas pernas e pés, que constituem as bases e suporte do ego, eles têm a função de contato com o chão e estar no chão é estar em contato com a realidade, o oposto de “estar nas nuvens”. Além das funções de suporte, equilíbrio, enraizamento, as pernas são as estruturas mais importantes na função de movimento corporal. Se a função de suporte é fraca, podemos também esperar problemas de mobilidade. Medimos a mobilidade nas pernas pela habilidade em mover livremente a pélvis sem usar qualquer parte do tronco no movimento. Movimento semelhante ao exigido em danças como samba, salsa e zouk. Requerem uma articulação relaxada e flexível no joelho, a pélvis solta dentro do tronco e o relaxamento de todos os músculos das pernas. Existem três condições que impedem esta mobilidade básica: fraqueza, volume e rigidez. 
     Indivíduos que têm os músculos das pernas subdesenvolvidos, tornozelos fracos e pé chato, encontrarão séria dificuldade na execução e manutenção de tais movimentos. Em primeiro lugar, sofrem de uma falta de controle sobre os músculos necessários e, em segundo, cansam-se muito facilmente. As grossas, gordas e volumosas coxas apresentam falta de mobilidade tão pronunciada que dizemos que tais pessoas têm “chumbo nos pés”. O acúmulo de gordura ao redor das nádegas e coxas é interpretado na bioenergética como resultado de uma estagnação da energia nesta região devido à mobilidade inibida. Nas pernas rígidas, os músculos são tão contraídos que frequentemente o equilíbrio se vê ameaçado. A rigidez deve ser encarada como uma compensação pelo sentimentos de fraqueza. O andar de indivíduos com músculos das pernas hipertônicos é mecânico e rápido, dado que em face de um relaxamento, manifestam-se sentimentos de fraqueza e insegurança.
     As pernas podem ser fracas, pesadas ou rígidas, ou ainda apresentar uma mistura desses elementos. Na análise da estrutura, dá-se atenção a cada componente, bem como ao aspecto total. Os pés podem ser estreitos ou largos, os dedos apertados uns contra os outros ou afastados, o arco caído, relaxado ou severamente contraído. Os músculos da perna podem ser informes ou nodosos. Os pés na postura natural da pessoa podem estar retos e paralelos, virados para fora em virtude da espasticidade dos músculos glúteos ou virados para dentro. Cada problema é percebido em termos de seus efeitos sobre a função de suporte e movimento.
    Quando analisamos corporalmente uma pessoa, nossa atenção se dirigi primeiramente para sua postura. Está ereto, quase caindo para trás ou debruçado para frente? O peso do corpo está colocado sobre as pernas ou sobre o sacro? O paciente está de pé sobre seus calcanhares ou sobre a parte arredondada da sola dos pés? Quando o peso do corpo está diretamente colocado sobre os tornozelos, a posição em pé pode ser facilmente destruída por um pequeno empurrão para trás. Agressividade ou movimento não são possíveis, exceto por uma pressão exercida através da parte anterior do pé.
A relação da pélvis com as pernas e o tronco é muito importante devido à função genital. A pélvis pode ter uma movimentação livre, o que confere a graça especial do movimento, ou pode estar imobilizada numa posição de avanço ou recuo. É evidente a quebra da linha natural do copo nestas últimas posições. Com a pélvis mantida para frente e erguida, ocorre tensão nos músculos abdominais, espasticidade no reto abdominal e contração das nádegas. A impressão é de que o indivíduo está fechando os canais naturais de descarga. Uma pélvis imóvel está associada a uma diminuição da potencia sexual. A pélvis bastante retraída, fixada nessa posição, representa uma severa repressão sexual.
     A espinha dorsal é um elemento importante na estrutura corporal. A fraqueza nesta região deve estar refletida num sério distúrbio de personalidade. O indivíduo com uma corcunda para trás, não pode ter a mesma força de ego de uma pessoa que tem as costas retas. Por outro lado, a rigidez da espinha, embora aumentando a força do suporte, diminui a flexibilidade. Além disso, tais indivíduos frequentemente têm dores nas costas. (Nestes casos, a redução da tensão nos músculos lombossacrais, a mobilização da pélvis, a análise do conflito reprimido e a resolução do problema do impulso inibido, resultaram no completo desaparecimento da dor e dá má colocação). A rigidez da espinha dorsal não é só evidente na perda da flexibilidade do movimento, pode ser sentida através do tato na tensão dos músculos lombares.
     Desde que Reich chamou a atenção para a importância da respiração no fluxo dos sentimentos, o estudo dos movimentos respiratórios ocupa um importante lugar na análise bioenergética. Procura-se ver se o peito está aumentando e mantido rigidamente nesta posição, ou se está à vontade, relaxado. Um peito estufado é o reflexo de um ego estufado. Por outro lado o peito relaxado, embora em relação com maior sentimentalidade, não necessariamente indica saúde. Numa estrutura saudável o peito está relaxado e os movimentos respiratórios mostram a unidade de peito, diafragma e abdômen na inspiração e expiração.
     A posição e mobilidade dos ombros são tão significativas para as funções do ego quanto às pernas e pélvis são para as funções sexuais. Várias atitudes são facilmente discerníveis. Ombros retraídos representam raiva reprimida, uma detenção do impulso de golpear; ombros levantados estão relacionados ao medo; ombros quadrados expressam a atitude de arcar com a responsabilidade; ombros caídos traduzem a sensação de carga, do peso de uma pesada mão. Ombros têm um papel importante na mobilidade do peito, dado que sua articulação vai desde a espinha dorsal, através dos rombóides, até o externo, na frente, através dos músculos peitorais. Distúrbios na articulação do ombro, portanto, afetarão a função respiratória. Sendo estender-se para frente a função básica dos braços, nos primatas tanto para tomar como para dar, para agarrar ou golpear a extensão e qualidade deste movimento é uma medida do ego. De acordo com os distúrbios físicos relacionados ao caráter, visualizamos indivíduos com comportamentos diferentes: o caráter esquizóide não se estende para o mundo; o oral se estende somente face a condições favoráveis; o masoquista vai e depois se retira, portanto, falha; e o rígido tende a agarrar.
     Os braços e o corpo formam uma unidade, esta unidade, entretanto, está sujeita às limitações da estrutura do caráter. No esquizóide há uma dissociação entre braços e o corpo, devido a tensões muito profundas na junção dos ombros ao corpo. Isto confere ao movimento dos braços uma qualidade mecânica e os ombros, congelados, participam de forma muito limitada nos movimentos dos braços. Devido ao fato de o que o corpo não toma parte dos movimentos de estender-se a frente, dizemos que o esquizóide não se lança ao mundo. O caráter oral se queixa de sensações de fraqueza e impotência nos braços, isso se dá devido à algumas musculaturas que ligam os braços ao corpo serem superdesenvolvidas e contraídas de modo crônico e outras serem subdesenvolvidas. Isto responde pela dificuldade que o oral tem de estender-se para dar e receber. O masoquista exibe uma condição muscular encolhida em seus braços, como no resto do corpo. Seus movimentos são descoordenados, desgraciosos e difíceis. É difícil para o masoquista esforçar-se em se lançar para frente e manter tal postura. Na estrutura rígida, o homem fálico-narcisista, os movimentos são coordenados e altamente carregados, as tensões são periféricas. A grande carga atuando contra uma forte tensão periférica confere às mãos um caráter de agarrar, um aspecto de garra.
     Pode haver uma antítese entre as metade superior e inferior do corpo. Não é incomum encontrar um homem com os ombros muito largos e quadris magros, estreitos, pernas de aparência frágil. É como se toda a energia estivesse concentrada na metade superior, deixando impotente a inferior. Na prática, na medida em que as pernas se fortalecem e aumenta a potência sexual, os ombros caem, o peito diminui de tamanho e o centro de gravidade cai apreciavelmente. A distribuição da musculatura no corpo humano é tal, que sua maior parte está concentrada nos quadris e pernas. Isto provê suporte ao homem, para sua habilidade de manutenção da posição ereta.
     O modo de sustentar a cabeça está em relação direta com a qualidade e poder do ego. Observamos pescoços longos e orgulhosos, encolhidos e enterrados nos ombros e cabeças inclinadas de lado que parecem estar fora do lugar.
    Quanto a expressão da face, nos é mais familiar o estudo, pois o efetuamos inconscientemente durante toda nossa vida. Podemos determinar a intensidade da expressão, bem como sua qualidade. Alguns olhos são vivos e brilhantes, outros brilham como estrelas, outros são aborrecidos e muito vagos. A expressão obviamente muda, procuramos, portanto, pelo olhar típico. Alguns olhos são tristes, outros rancorosos, alguns duros e frios, outros doces e envolventes.
    Frequentemente aparecem numa mesma face duas expressões conflitantes. Os olhos podem parecer fracos e abatidos, enquanto o queixo é forte e protundente. Ou pode ser que o queixo seja fraco enquanto os olhos são fortes. Se os músculos do queixo forem superdesenvolvidos, existe um bloqueio no fluxo de energia para os olhos. O queixo é uma estrutura móvel que lembra a pélvis quanto a sua movimentação. Pode ser imobilizado tanto numa posição protrundente como numa retraída, ambas representando um decréscimo na mobilidade. O queixo que não pode se mover para frente na agressão ou amenizar-se na ternura, é considerado patológico em termos de função. Muitas expressões estão relacionadas à posição do queixo. Na medida em que se move para frente, expressa determinação, um pouco mais à frente, assume expressão de luta, enquanto que a protrusão extrema indica desafio. O número e variedade de expressões que podem aparecer na fisionomia de um indivíduo é enorme.
    A leitura corporal nos auxilia na nossa próprio compreensão e na dos demais, nos ajuda a compreender as limitações de mobilidade e expressão e, principalmente, nos dá diretrizes para o trabalho com o corpo.
     Nos capítulos seguintes veremos como as pessoas inibem ou bloqueiam o fluxo de excitação no seu corpo e assim reduzem a sua vitalidade.


REFERÊNCIAS
LOWEN, Alexander. O Corpo em terapia: a abordagem bioenergética. São Paulo: Summus, 1977.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Monografia: QUEM DANÇA É MAIS FELIZ - Parte 4

     Boa tarde! As publicações sobre a Monografia tem ocorrido às quintas-feira, porém como amanhã é feriado, essa semana está saindo um dia antes. O capítulo de hoje é muito interessante! Fala das diferentes estruturas de Caráter e do seu comportamento na dança. É muito rico para entendermos nosso padrão de comportamento e como isso se reflete na dança, muitas vezes limitando nosso desenvolvimento e aprendizado.

     O capítulo, como toda a monografia, esta escrito numa linguagem de fácil compreensão inclusive para quem não possui conhecimentos em psicologia. Recomendo a releitura dos Capítulos 4 - Energia e 7 - Caráter antes deste. E se preparem para defrontarem com características sobre seu caráter que nem sempre são tão agradáveis de tomar conhecimento, mas que a Dança de Salão, quando bem trabalhada, pode ajudar a superar e liberar mais energia para que se possa desfrutar do prazer da dança e de viver. Boa leitura!

     QUAL O SEU CARÁTER???


QUEM DANÇA É MAIS FELIZ: AUMENTANDO A VITALIDADE POR MEIO DA BIOENERGÉTICA E DA DANÇA DE SALÃO 


Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Psicoterapia Corporal no Curso de Pós Graduação em Psicologia Corporal, Instituto Reichiano.


8 ESTRUTURAS DE CARÁTER

As defesas psicológicas usadas para lidar com a dor e o estresse, tais como racionalizações, negação e supressões também estão ancoradas no corpo e aparecem como padrões corporais cronicamente rígidos. Esses padrões, juntamente com as representações mentais, crenças e valores que os sustentam, constituem a estrutura de caráter, que influencia a auto-percepção física, a auto-estima, a auto-imagem e o intercâmbio com o ambiente. Esses padrões tornam-se inconscientes e passam a fazer parte da própria identidade da pessoa. (WEIGAND, 2005).
De acordo com a bioenergética, as estruturas de caráter são classificadas em cinco tipos básicos, cada qual apresenta um padrão peculiar de defesas tanto a nível psicológico quanto muscular, um comportamento estereotipado que os distingue dos demais. Lowen (1982) ressalta que é importante observar que a classificação não abrange pessoas, mas sim posições de defesa e, também, que ninguém é um tipo puro e que qualquer indivíduo dentro da nossa cultura combina, em graus variados dentro de sua personalidades, algumas ou todas as posições defensivas. Como o trabalho é focado a uma análise com a dança de salão, as estruturas de caráter serão apresentadas com mais ênfase no aspecto físico e energético à aspectos psicológicos.


8.1 CARÁTER ESQUIZÓIDE

Lowen (1982) descreveu o caráter esquizóide como a pessoa cujo senso de si mesma está diminuído, o ego é fraco e o contato com seu corpo e sentimentos está reduzido em grande parte. O pensamento tende a dissociar-se dos sentimentos. Refugiam-se dentro de si mesmas, rompendo ou perdendo o contato com a realidade. 

a) Condição energética: 
O sistema de energia é baixo. A energia concentra-se na área central do corpo, distante da periferia, longe dos órgãos que fazem contato com o mundo (rosto, mãos, genitais e pés). A carga interna tende a endurecer na área central e não flui direto para a periferia, para os órgãos de contato, sendo bloqueada por tensões crônicas situadas na base da cabeça, nos ombros, na pelve e nas articulações dos quadris, fazendo com que a função destes órgãos esteja dissociadas dos sentimentos existentes no centro da pessoa.

b) Aspectos físicos:
O corpo, na maioria dos casos é estreito e contraído. A face tem uma aparência de máscara, os braços pendem, os pés são contraídos e frios e é comum serem revirados, o peso do corpo está jogado na borda dos mesmos, as mãos são frias. Há uma cisão entre as metades superior e inferior do corpo devido a uma tensão crônica na região da cintura.

c) Características:
Dal-Ri (2010) os descreveu como mentais, não corporais, e com conduta não emocional. Possuem dificuldade de contato e tendência a evitar relacionamentos íntimos e afetuosos. São inteligentes, criativos e muito sensíveis.

d) Na dança:
Possuem pouca consciência corporal e uma dissociação entre movimento e sensação ou sentimento, ocasionando movimentos mecânicos e sem expressividade. Lowen descreve o conceito de coordenação motora como um movimento integrado com uma sensação adequada. Como é possível o movimento dissociado “o caráter esquizóide pode ser um excelente bailarino” (LOWEN, 1977, p. 324).
Como a dança de salão é praticada junto com um par, e esta estrutura de caráter possui dificuldade de contato, estes o fazem com um ar de desconfiança, com pouca proximidade e com um contato mecânico, desprovido de emoção.

e) Benefícios da dança de salão:
A dança de salão pode proporcionar às pessoas com essa estrutura de caráter uma maior identificação com o corpo, proporcionar prazer através das sensações corporais, aumentar a expressividade através do movimento e ampliar o contato com a realidade e com outras pessoas. 


8.2 CARÁTER ORAL

No caráter oral a personalidade contém muitos traços típicos da primeira infância, ocasionados pela falta de satisfação das necessidades da criança nesta fase. Lowen (1982) cita traços como fraqueza, tendência a depender dos outros, agressividade precária e sensação interna de precisar ser carregado, apoiado e cuidado. A experiência básica é a carência afetiva.

a) Condição energética:
Possui baixa carga energética, que flui até as periferias, mas de modo minguado. Todos os pontos de contato com o mundo recebem carga, porém menor do que necessária. A falta de energia se nota mais na parte inferior do corpo, e essa fraqueza impede o desenvolvimento da independência e agressividade essenciais ao funcionamento do adulto maduro. A respiração é superficial. (LOWEN, 1977).

b) Aspectos físicos:
O corpo tende a ser esguio e fino. A musculatura é subdesenvolvida (traços infantis podem aparecer). O peito geralmente é murcho. O abdômen não tem vitalidade e quando tocado parece macio e vazio. Tende a compensar a fraqueza das pernas juntando os joelhos, conferindo uma sensação de rigidez obtida à custa da flexibilidade. Os pés são fracos e frequentemente chatos. O peso do corpo está sobre os calcanhares. Tende a ter as costas curvadas, ombros caídos, o que é compensado pela cabeça mais a frente. As nádegas e pélvis são mantidas mais à frente.

c) Características:
Lowen (1977) cita características como: passivo, necessitado, em casos extremos podem se mostrar sugando força e energia de outra pessoa. Não têm habilidade para se tornarem independentes. Relutam em aceitar a necessidade de trabalhar ou empenhar-se. Pode apresentar hiper-irritabilidade. São impacientes e inquietos. Possuem uma urgência obstinada para falar e um apetite morbidamente intenso por comida. Racionais, lógicos, com clareza intelectual excepcional e capacidade verbal muito alta.

d) Na dança:
A baixa carga energética faz com que tenham pouca resistência e que cansem rapidamente. Os movimentos não têm apoio de um fluxo adequado de energia. Lowen (1977, p. 163) descreveu a mobilidade da perna no oral como: “As pernas cansam-se rapidamente em posições de tensões. O controle de seus movimentos é pobre e a coordenação é inadequada”. As pernas e pés fracos prejudicam sua sustentação e equilíbrio além de diminuir o seu contato com o chão (grounding), gerando ansiedade insegurança e falta de ritmo nos movimentos.

e) Benefícios da dança de salão:
A prática constante da dança de salão vai aumentar gradativamente a resistência e por consequência a energia no corpo. O desenvolvimento de uma atividade física tende a ampliar a capacidade respiratória. A dança melhora sua coordenação motora e aumenta o fluxo de energia para os membros inferiores, ampliando seu contato com o chão e com a realidade. O conhecimento e prática de técnicas de dança aumentam a sua segurança e diminui a dependência, a partir do momento que este passa a acreditar e confiar mais em si mesmo. Além de propiciar um ambiente social favorável ao contato e a relacionamentos como de amizade.


8.3 CARÁTER PSICOPÁTICO

A essência deste caráter é a negação do sentimento. O ego, ou mente, volta-se contra o corpo e seus sentimentos. A negação dos sentimentos é basicamente uma negação das necessidades. Há um grande acúmulo de energia na própria imagem. Possui uma motivação de poder e a necessidade de dominar e controlar. Lowen (1982) adere essa necessidade de controle ao medo de ser controlado, de ser usado, e a motivação de estar por cima ao medo da ocorrência de um fracasso, o que o colocaria numa posição de vítima.
A defesa básica do psicopático é controlar tudo, incluindo a manipulação do próprio self. O domínio sobre os outros pode se dar de dois modos: oprimindo e atormentando, usado pelo tipo tirânico; ou debilitando a pessoas por meio de aproximações sedutoras, praticado pelo tipo sedutor.

a) Condição energética:
No tipo tirânico há um deslocamento nítido de energia em direção da extremidade cefálica do corpo, com grande redução de carga na parte inferior do organismo. No tipo sedutor a carga na pelve é excessiva e desconectada.
Segundo Lowen (1982), “a cabeça comporta uma carga de energia acima do normal, o que significa a existência de uma hiperexitação da capacidade mental”. Há um distúrbio do fluxo entre as duas metades do corpo. Apresentam espasticidade acentuada no diafragma e tensões nítidas no segmento ocular e ao longo da base do crânio.

b) Aspectos físicos:
O corpo do tipo tirânico mostra um desenvolvimento desproporcional da metade superior, dando a impressão de estar cheio de ar; isto corresponde à imagem de ego da pessoa, toda cheia de si. A estrutura é rígida e pesada no topo. A parte inferior é mais estreita e pode apresentar a fraqueza típica da estrutura de caráter oral. O tipo sedutor possui um corpo mais regular e em geral as costas são hiperflexíveis.

c) Características:
Controlador e manipulador. Descrente e cético, aceita apenas a sua realidade. Tem grande dificuldade em ceder. Competitivo, deve sempre ganhar. Inteligente, eloquente e com boa capacidade de argumentação.

d) Na dança
Os movimentos são mecânicos e dissociados de sentimentos. São controladores e algumas vezes adotam um comportamento agressivo. São criativos e com uma boa capacidade de memorização.

e) Benefícios da dança de salão:
Como este tipo de caráter tem dificuldade de ser convencido, a experimentação através do corpo se faz mais eficaz. Assim como no caráter oral, a prática da dança proporciona um maior contato com o chão e com a realidade, fazendo a energia descer para os membros inferiores. Trabalhos com contato e musicalidade podem despertar uma maior integração com seus sentimentos e sensações.


8.4 CARÁTER MASOQUISTA

Esta estrutura de caráter descreve aquele que sofre e lamenta-se, que se queixa e permanece submisso. Enquanto o indivíduo apresenta uma conduta externalizada submissa, internamente, acolhe sentimentos intensos de despeito, negatividade, hostilidade e superioridade, que na sua inabilidade de expressão acabam sendo retidos e quando muito carregados tendem a explodir num violento comportamento social. O medo de explodir é contraposto por um padrão muscular de contenção. “A ambivalência e a incerteza identificam todos os aspectos do comportamento masoquista.” (LOWEN, 1977, p. 206)

a) Condição energética:
É dotado de um alto nível de energia, no entanto, está fortemente presa do organismo, mas não sedimentada. Devido à severa contenção interna, os órgãos periféricos estão pouco carregados, o que impede tanto a descarga quanto a liberação energética, limitando as ações expressivas.
Os impulsos que se movem para cima e para baixo são estrangulados no pescoço e na cintura, o que é responsável por uma forte tendência de sentir ansiedade.

b) Aspectos físicos:
O corpo típico do masoquista é curto, grosso e musculoso. O pescoço é curto e grosso, semelhante à cintura, que também é mais curta e grossa. A pelve está projetada para frente e para cima. A pele tende a um tom acastanhado devido à estagnação da energia.
Lowen (1982) cita mulheres com uma combinação de rigidez na metade superior do corpo com masoquismo na metade inferior, demonstrado por nádegas e coxas pesadas, por um soalho pélvico encolhido para cima e pela tonalidade escura da pele, decorrente da estagnação da energia.

c) Características:
Ansiedade de encarar o prazer. Dificuldade de expressão. Desejo de aprovação, muitas vezes buscado na forma de trabalho e esforço. Desconfiança e dúvida. Autodepreciação verbal e/ou na aparência (descuidada ou mal vestida, com roupas feias). Teme o sucesso, pois este o põe em evidência e provoca fortes ansiedades ao lado do exibicionismo. Tende a apresentar queixumes e lamentos.

d) Na dança:
As severas tensões dificultam uma postura ereta e limitam os movimentos naturais. Os movimentos geralmente são bruscos, pesados e quase sempre sem expressão. A ansiedade prejudica a manutenção do ritmo e interfere na condução do cavalheiro, fazendo com que comecem um movimento antes de terminar o anterior e na resposta da dama tentando prever ou adivinhar o próximo passo. São esforçados e dedicados.

e) Benefícios da dança de salão:
A dança se apresenta como uma ótima oportunidade de expressividade, de descarga como forma de aliviar tensões e de aumento da capacidade de sentir prazer. Trabalha a ansiedade. Os movimentos de extensão e alongamento possibilitam aliviar as tensões crônicas e a musculatura superdesenvolvida. Os movimentos de pernas e quadris possibilitam aliviar as tensões nestas regiões. A movimentação corporal na dança faz com que a energia que esta estagnada circule por todo o corpo, permitindo uma movimentação mais livre. A prática constante da dança de salão faz com que o indivíduo masoquista adquira mais confiança e assertividade e melhore seu relacionamento com os pares e colegas.


8.5 CARÁTER RÍGIDO

Lowen (1982) relacionou o conceito de rigidez às tendências destas pessoas a se manterem eretas, de orgulho. A cabeça portada bem erguida e a coluna reta. Traços que seriam positivos não fosse o fato de ser o orgulho um sentimento defensivo, e a rigidez algo não flexível. O indivíduo de caráter rígido tem medo de ceder, pois iguala o ato de submeter-se com perder-se completamente.

a) Condição energética:
A carga energética é razoavelmente poderosa em todos os pontos periféricos de contato com o meio ambiente. A contenção é periférica, permitindo os sentimentos fluírem, mas a manifestação é limitada. Os músculos longos do corpo são as principais áreas de tensões. Há vários graus de rigidez, quando a contenção é moderada, a personalidade é ativa e vibrante.

b) Aspectos físicos:
O corpo é proporcional e mostra harmonia entre as partes. A pessoa se sente integrada e conectada. Lowen (1982, p. 147) destacou como “uma característica importante é a vivacidade do corpo: olhos brilhantes, boa cor de pele, leveza dos gestos e movimentos.” Se a rigidez for grave a coordenação e a graça dos movimentos serão diminuídas, os olhos perderão um pouco de seu brilho e a pele adotará uma tonalidade pálida ou acinzentada.

c) Características:
São geralmente mundanos, ambiciosos, competitivos e agressivos. São determinados e podem se tornar teimosos. Insensíveis, têm dificuldade de expressar sentimentos. Geralmente são bem sucedidos social e economicamente.

d) Na dança:
O indivíduo de caráter rígido é o que possui maior identificação com o corpo, resultando em maior coordenação física e aprendizado rápido. A vivacidade observada por Lowen reflete em movimentos belos e harmoniosos. Quando a rigidez é muito acentuada, o movimentos ficam duros e limitados pela inflexibilidade. Quando a expressão dos movimentos é dissociada de sentimentos, estes parecem sem vida.

e) Benefícios da dança de salão:
A prática da dança de salão tende a flexibilizar a rigidez física e proporcionar contato com os sentimentos. Auxilia no equilíbrio energético proporcionando oportunidade para a descarga do excedente.

REFERÊNCIAS
DAL-RI, Adriana. Análise Bioenergética. Apostila (Curso de Formação em Psicologia Corporal) – Instituto Reichiano, Curitiba, 2010.
LOWEN, Alexander. O Corpo em terapia: a abordagem bioenergética. São Paulo: Summus, 1977.
LOWEN, Alexander. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982.
WEIGAND, Odilia. Grounding na Análise Bioenergética: Uma proposta de atualização. Tese (Mestrado em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005.